Escolas: Norte é a região com mais fechos (384)

Educação: 701 estabelecimentos vão encerrar por todo o país

O Governo divulgou ontem a lista das 701 escolas básicas de 1º Ciclo que deixarão de funcionar no próximo ano lectivo. Depois de o CM ter publicado a lista de mais de mil escolas com menos de 21 alunos em risco de encerramento e da pressão de agentes educativos preocupados com a indefinição a menos de um mês do arranque das aulas, o Ministério da Educação revelou, finalmente, ao início da noite, as 701 escolas que já a 23 de Julho anunciara ir encerrar.

Numa nota enviada às redacções, o ME reforçou que este 'reordenamento da rede escolar' está 'concluído desde 23 de Julho', o que torna ainda mais difícil perceber o porquê de não ter revelado antes o rol de estabelecimentos a encerrar.

O Norte é a região do País mais massacrada – vão fechar 384 escolas, sendo o concelho de Lamego o que mais perde (21). Nas principais cidades do País, Lisboa e Porto, fecham duas em cada. No Alentejo, fecham cinco em Odemira e no Algarve Loulé perde quatro.

Francisco Almeida, da Fenprof, considera que o fecho de escolas 'vai ser a sentença de morte de muitas aldeias'. 'Há crianças que vão viver um autêntico suplício para irem para a escola e vão deixar de conviver com os pais e avós', frisa. Em Ester, aldeia encravada na serra de Castro Daire, há pais revoltados. Francisca e Manuel Esteves, irmãos gémeos, de 9 anos, vão ser obrigados a fazer 50 quilómetros por dia de autocarro.

'O que estão a fazer aos meus filhos é uma vergonha. Vão fazer por dia dezenas de quilómetros, em estradas perigosas e com muitas curvas, porque a carreira vai ter de ir a outras aldeias apanhar mais crianças', lamenta-se Maria de Lurdes Esteves, de 46 anos. 'Que educação querem que eu dê aos meus filhos se vão para a escola às 07h30 e só regressam às 19h00?', interroga-se a ex-emigrante na Suíça, de onde regressou há cinco anos porque queria que os filhos 'estudassem na escola da aldeia'. 'Se adivinhasse que isto ia acontecer tinha ficado na Suíça', rematou.

DISTÂNCIA DE METROS PASSA A 15 QUILÓMETROS

A pequena Carolina, de oito anos, vai deixar de atravessar a rua em São Miguel, Odemira, para ir para a escola. A partir de agora, terá de fazer um percurso de 15 quilómetros até São Teotónio.

A solução intermédia ficava no Brejão, a metade da distância, mas a mãe, Dulce Cacia, entende que não seria benéfico mudar duas vezes de escola em dois anos. 'Como no quinto ano tinha que ir para São Teotónio, achámos por bem já fazer o quarto ano lá', disse ao CM a progenitora, que assim vê a sua vida totalmente alterada. 'Nem eu nem o pai temos rotinas compatíveis com os horários escolares, mas no Brejão era pior, porque a escola não tem condições. Carolina parece não se importar porque tem muitos amigos que vão mudar para o mesmo estabelecimento.

COVILHÃ NÃO VAI ENCERRAR NENHUMA ESCOLA

A Covilhã foi um dos concelhos que mais contestou a intenção de encerrar escolas e conseguiu que as seis escolas em risco continuem a funcionar. 'Isto significa que a câmara tinha razão quando se bateu pelo não encerramento', disse o presidente da Câmara Carlos Pinto, que ontem à tarde, antes de a lista definitiva ser conhecida, ameaçara, em declarações ao CM, 'colocar os alunos em colégios privados a expensas da câmara'.

Carlos Pinto garantiu que as escolas em causa não irão funcionar apenas mais um ano por autorização especial. 'Não fecha nenhuma escola na Covilhã e ponto final. No futuro ver-se-á o que vai suceder', disse, acrescentando: 'Não é uma vitória minha. Prevaleceu o bom senso. Vale a pena sermos determinados'.

LISTA COMPLETA - Direcção Regional de Educação do Norte (384)
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