Comboios: Fim da estação contribui para o despovoamento - Especialistas
*** Serviço vídeo disponível em www.lusa.pt ***Lisboa, 08 ago (lusa) - O encerramento das estações dos comboios e de outros serviços públicos está a c...
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"Se pensarmos porque é que o interior se esta a despovoar é por tudo isso, não é só os transportes, é o encerramento de escolas, os vários serviços que vão encerrando e claro que há um processo que também não é directo, mas pessoas que vivem em sítios mais remotos, com mais dificuldades de acesso, vão-se deslocando primeiro para as sedes de concelho, mas depois há também a emigração para o litoral", afirmou o sociólogo Pedro Hespanha.
O sociólogo salienta que uma linha fecha quase sempre por questões de rentabilidade, mas isto depende de quem faz as contas: "do ponto de vista da empresa, pode representar grandes poupanças, mas, do ponto de vista dos utentes, isso normalmente significa um encargo maior e não são tidos em conta os custos, por exemplo, em termos de transporte alternativo nem há depois uma grande preocupação em saber como é que a população resolve o problema".
José Manuel Lopes Cordeiro, especialista em ferrovias e docente da Universidade do Minho, defende que "deviam ser reforçados" os comboios de passageiros de ligação com o interior do país, "para que essas regiões não sejam abandonadas".
"Estamos a desaproveitar o potencial de desenvolvimento económico e social do interior. Não podemos continuar com esta política e o caminho-de-ferro tem aí um papel fundamental", alerta, considerando que o país corre o risco de dentro de 50 anos ser "uma estreita faixa do litoral entre Braga e Setúbal".
O especialista em ferrovias admite que a falta de investimento afasta os clientes, e isso gera menos investimento, mas afirma não ter dúvida de que, quando se investe a sério, a "procura dispara".
Para Manuel Tão, da universidade do Algarve, embora cada caso seja um caso, há exemplos "em que o desaparecimento do caminho de ferro foi o declínio das povoações e quase a sua extinção", como Barca d'Alva, uma estação internacional onde havia comboios rápidos para Madrid e que "hoje é nitidamente uma terra deprimida, mau grado todas as promessas".
"Quando se encerraram linhas em Trás-os-Montes e no Alentejo houve uma desestruturação do território porque, houve um relacionamento funcional de muitas cidades que foi destruído", disse.
No Alentejo, segundo este especialista, a camioneta tentou substituir o comboio, "mas isso é uma falácia muito grande", porque, comparados o serviço ferroviário em 1990 e o de camionagem agora, "verifica-se que esses serviços não só não aumentaram a velocidade comercial como a frequência é menor" e não funcionam ao fim de semana.
Manuel Tão salientou que noutros países da Europa se verifica neste momento um renascimento das linhas regionais, após a liberalização do caminho-de-ferro.
"As linhas são concessionadas às próprias empresas de camionagem, que as exploram através de material ferroviário ligeiro e que depois reestruturaram as camionetes para alimentar esses comboios com um êxito completo", exemplificou.
Pedro Hespanha considera que "também compete às varias entidades e aos municípios e as regiões tentarem ver se encontram motivos para tornarem mais rentáveis esses tipos de transportes.
"Estou a pensar no Douro, que ainda subsiste por causa da sua atracção turística. É preciso é que alguém pense nisso e encontre novas oportunidades", salientou.
RCS/ACG.
***Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/fim
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