"O Porto é bonito mas os edifícios estão degradados"

|DN|

Turistas destacam a vista da cidade e ficam "maravilhados" pelo que vêem desde o cais de Gaia. Gostam do calor e da comida, mas criticam o mau estado do património edificado

"É lindo! Uma vista fabulosa de uma das cidades mais bonitas da Europa." Esta é a opinião dos turistas questionados no cais de Gaia sobre o Porto, cujo o velho casario se ergue na margem direita do Douro. Posa-se para a fotografia antes do embarque nos barcos de cruzeiro que fazem o circuito das seis pontes. Do que gostam menos? Do estado do património edificado. "As casas estão em muito mau estado. É uma cidade a precisar de obras." A opinião é quase unânime.

Edith Velazco chegou num autocarro turístico ao cais de Gaia. Está "maravilhada" com o que vê. A venezuelana gosta do passeio ao longo do rio, da Ponte Luiz I, e despede-se, afirmando que vai visitar uma das caves de vinho do Porto. Depois atravessará para a margem oposta. "Tenho de ir ali", aponta para o Porto, "deve ser uma cidade magnífica".

Quem lá esteve, antes de rumar ao cais de Gaia, foi Philip Poincijnon. Gostou dos monumentos. "É uma cidade bonita mas está um pouco abandonada. Os edifícios estão muito degradados e isso dá uma má imagem", refere. Mas este francês sai da cidade bem impressionado com outros motivos.

"Gostei muito das pessoas, são simples e bem-dispostas. Sente-se também alguma segurança, o que vejo, por exemplo, em cidades francesas da mesma dimensão", esclarece. E depois, "a comida é muito boa, assim como o vinho", acrescenta.

O estado de degradação do património habitacional é também um dos aspectos negativos referidos por António Lopes, emigrante em França há 35 anos. "Para quem vê deste lado, até é bonito, mas depois choca um bocado os prédios sem janelas e com paredes a cair", diz o emigrante residente em Nancy. Com ele está o irmão Luís. Ambos nasceram em Angola, mas a família está toda em Mangualde. Luís tem opinião diferente.

Gosta do Porto tal como ele é. "É esse aspecto que lhe dá charme", afirma. Tanto assim que diz estar farto de viver em França e que "brevemente" virá viver definitivamente para Portugal. Comprou um bar na zona de Águas Santas, na Maia, e já encontrou colocação para os dois filhos num colégio francês, no Porto. Para já ficarão na cidade mais quatro dias, depois rumarão até Valença.

Com o marido e os três filhos menores, Katherine Stewart prepara-se para embarcar num dos muitos barcos de cruzeiro. Estiveram já em Lisboa, passaram por Fátima e os restantes quatro dias serão passados no Norte. É a quarta vez que está em Portugal. Da primeira vez lembra-se da viagem que fez, ainda em criança, com os pais. Estiveram no Algarve, algo que repetiu com o marido e filhos em anos mais recentes. Desta vez pretendeu conhecer mais. "É tudo muito bonito, todas a terras são lindas" mas tem pena de não compreender muita parte dos locais históricos que visita. O que mais gosta é do tempo. "Está sempre bom, com muito calor", ao contrário da localidade onde reside nos arredores de Londres.

"A comida também é muito boa", diz, exemplificando com a francesinha que provou na noite anterior. "Um prato estranho mas bom, diferente, tive foi de caminhar um pouco antes de regressar ao hotel", acrescentou, rindo-se.

Lúcia Gomes é de Barcelos, há vários anos que não visita o Porto, apesar de a distância entre as duas cidades não ser grande. Desta vez, a filha e o genro fizeram-lhe uma surpresa, umas férias de 15 dias pelo país. No cais de Gaia estavam também os seus seis netos. "Já vim ao Porto várias vezes, mas é sempre para tratar de qualquer coisa, nunca se conhece nada. Desta vez é como turista", diz mostrando ar de satisfeita. "Estou a adorar, o Porto é muito bonito, embora deveriam primar mais pela limpeza das ruas", acrescenta.

No cais de Gaia, cada barco de cruzeiro (de diferentes operadores) parte de meia em meia hora. A lotação vai dos 70 aos 90 passageiros. Sempre lotados. O preço média de cada viagem (circuito das seis pontes) é de dez euros. As crianças viajam de graça. "O mês de Julho foi fraco, mas Agosto está a ser muito bom", salienta Sandra Sobral, da Cruzeiros Rio Douro.

A grande novidade deste ano, para quem gosta de sensações mais fortes, é o Jetboat, uma novidade proveniente da Nova Zelândia. Faz slide, peões e outras acrobacias a 90 quilómetros por hora. Cada barco transporta 12 pessoas. São 20 minutos de viagem, entre a Ponte Luiz I e a Ponte da Arrábida. O preço é de 25 euros por pessoa. "Estamos aqui há três dias e está mau. Só os mais novos gostam, mas, como é um produto novo, acaba por ser natural. Esperamos que, com o tempo, tenhamos mais clientes", afirmou ao DN Luís Alvim, piloto do barco e responsável da empresa Xtreme Jet.
.

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Há muitos meses, escrevi aqui sobre uma desejável e necessáris política de construção. A proposta assenta em três dimensões:
1ª. Mesmo sem períodos de crise (apesar de ainda ninguém ter tido a coragem de a caracterizar, localizar e dimensionar), deveriam ser proibidas novas construções em todo o território nacional
2ª. A ênfase de uma política de construção deveria orientar-se para a RECONSTRUÇÃO de edifícios já existentes, pois de outro modo não se poderá assegurar a sua existência face à progressiva e crescente falta de qualidade dos novos edifícios (os construtores e técnicos podem alegar o que quiserem, mas é assim).
3ª. Por cada metro quadrado de reconstrução, deveria ser criado um espaço verde de 100 metros quadrados de área, pelo menos.
Por este andar, nem memória colectiva teremos das condições de verdadeira vivência humana das cidades nem dos sucessivos estilos arquitectónicos que ajudaram a compreeender a sua essência e dinamismo, assim como o carácter das populações citadinas.
No meio de tanta miséria intelectual ou espiritual, Júlio Dantas apenas teve inspiração para rematar "como é diferente o amor em Portugal". Como é triste que muitos "iluminados" não consigam descortinar outras diferenças muito mais importantes e limitativas do desenvolvimento da nossa sociedade que não prima pela exigência, pelo bem público, pelo reconhecimento (a não ser depois de morto e bem morto), pela sanção dos prevaricadores (e são imensos), pela culura nem pela educação pessoal e cívica, mas que glosa com a preguiça mental e funcional, o xico espertismo das aldrabices e do oportunismo, a inutilidade e estupidez da inveja, o segredo íntimo e restricto das negociatas, o concubinato de profissão, de condição social, económica, política, partidária ou até religiosa, a covardia individual e colectiva, a entrega do poder a capatazes capazes mais do pior que do melhor, o deslumbramento pelo que tem de pior a preferência pelo estrangeirismo e tudo o resto que se tem escrito por aqui e por outras bandas.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)