Reflexões sobre os temas quentes do Verão: encerramento de escolas, incêndios, crise...

O encerramento de uma escola contribui apenas para acabar com mais uma possibilidade de uma aldeia, vila ou até mesmo concelho de inverter os problemas populacionais que enfrenta.

O que mais me choca é que, de entre os países desenvolvidos da UE, só em Portugal é que se acha normal uma aldeia chegar à população zero e, mais incrível ainda, consegue haver gente que ainda aplaude e acha que o país só fica a ganhar.

Isto sobretudo nos meses de Inverno. Depois chega Julho e Agosto e "ai meu Deus", os incêndios. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? Tudo. Os incêndios são uma enorme catástrofe nacional, com uma enorme projecção negativa de Portugal no estrangeiro, mas por cá parecemos não concluir o óbvio, que a maior causa para os incêndios é o despovoamento de vastas áreas do País. Está tudo relacionado: Os incêndios alastram porque as matas não são limpas. As matas não são limpas porque os seus proprietários não o podem fazer. E isso acontece porque a esmagadora maioria vive a centenas de kms de distância deles. Muitos proprietários nem sequer sabem onde são os seus terrenos, o que é normal tendo em conta o baixíssimo valor deles, e o desinteresse subsequente dos proprietários por terrenos que não são rentáveis, e que estão há muito abandonados.

Mas o mais chocante é que os terrenos não são rentáveis porque Portugal não quer. Somos um país pobre, temos consciência disso, e o mais incrível é que nos damos ao luxo de ter quase metade do país ao abandono, e ainda há quem consiga achar isto positivo.

Temos terrenos com potencial agrícola, florestal e pecuário enorme, e não os aproveitamos porque em Portugal olha-se para a agricultura como se fosse uma actividade característica de um país atrasado. O que é certo é que depois vamos buscar os produtos agrícolas que consumimos a países bem mais desenvolvidos- Espanha, França, EUA, etc.

Na Beira Interior a situação é claríssima: a fronteira é uma linha imaginária que divide terrenos com potencial exactamente igual. Do lado espanhol, vemo-los convertidos em pastos, campos agrícolas, etc. Do lado português vemos tudo abandonado. Afinal, qual é o país que é atrasado?

Enquanto continuarmos a pensar que Portugal vai ficar rico sem produzir absolutamente nada, com a população toda a trabalhar nos serviços e concentrada em 2 ou 3 pontos específicos do território, e com o resto do território ao abandono ao abrigo da mentalidade "deixa arder, que aquilo não presta", não vamos a lado nenhum.


João Marques Ribeiro
(anteriormente com o pseudónimo Afonso Miguel)


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