SCUTs do Interior

Mais longe

|Luis Baptista-Martins|

1. A decisão de introdução de portagens nas auto-estradas da região (A23 e A25) é uma penalização para o interior. Mais uma. Mesmo que concordemos com a universalização do princípio do utilizador pagador, a verdade é que, para quem vive no interior, esta decisão implica mais um custo para as empresas e pessoas.

O Governo, contrariando a promessa do PS, aceitou, depois de muita confusão, a imposição social-democrata da “universalidade” de pagamento pelo utilizador. Os argumentos das assimetrias regionais, da necessidade de aproximar o litoral desenvolvido do interior atrasado, da coesão territorial, do desenvolvimento do território como um todo, da solidariedade nacional… foram esquecidos pelo PS e pelo PSD.

Os socialistas apanharam a boleia “laranja”, esquecendo a promessa eleitoral de Sócrates de que não haveria lugar ao pagamento das Scut onde não houvesse alternativas e em que os rendimentos fossem inferiores a 90 por cento da média nacional. Ainda assim, para se livrarem do custo eleitoral da impopular medida, irão isentar de pagamento os residentes e as empresas das respectivas zonas com bónus e descontos – uma confusão.

Pior. Como já aqui referi, as Scut não são verdadeiras auto-estradas, não foram construídas como tal e não deviam ser consideradas para efeitos de pagamento de portagem – a sua construção não obedeceu aos requisitos próprios de uma auto-estrada, nomeadamente no que concerne à segurança (de pavimento, de trajecto, de largura, de largura da berma, têm curvas apertadas e curvas com inclinação ao contrário, muitos acessos, etc). As Scut são vias rápidas onde, em muitos quilómetros, a velocidade obrigatória é inferior ao normal numa auto-estrada (por exemplo, a maior parte do trajecto da A25 está limitada aos 100 km/hora, o que é inadmissível).

Agora, já é tarde para continuar a discutir os argumentos (ainda que possamos contestar). A decisão está tomada e, no próximo ano, vamos sentir no bolso os custos da interioridade – até agora, quando falávamos deles pareciam algo menos palpável, quase espiritual, uma exclamação contestatária, uma frase feita para digerir a nossa incapacidade de mudar o rumo dos acontecimentos, ainda que verosímil e manifesta, mas agora terá evidência constante nos custos das deslocações, em cada passo rumo ao litoral, em cada trabalho para lá das proximidades, em cada ensejo de lazer e cultura a sério, em cada dia que queiramos sair do nosso pequeno mundo e abandonar a pequenez que nos rodeia (fica a oportunidade de irmos mais até Espanha… por enquanto).


2. A falta de capacidade de atracção de novos alunos no IPG é assustadora. Menos de metade das vagas foram, para já, preenchidas (380 novos alunos). O nível de exigência vai sendo cada vez mais baixo, num tempo em que o ensino superior está massificado e “toda a gente” tem vaga e tira um curso superior, mas o IPG já nem os alunos mais fracos atrai…. Economicamente, para a Guarda, é muito mau que a sua mais importante instituição não consiga ter dinâmicas e capacidade para atrair novos e mais estudantes e irá sentir cada vez mais a falta dos tais “milhões” que os estudantes deixam na cidade.

Na Covilhã, a UBI, sem ter conseguido resultados extraordinários, ocupa já a maioria das vagas com mil e cem novos estudantes. Sinal de atractividade e consequência do prestígio que a universidade tem granjeado. Salva-se a região.
.

Comentários