A Confraria dos Enófilos do Douro

|Manuel Igreja|

Vem já desde a fundura dos tempos da Idade Média, o costume de os homens se agruparem segundo as suas artes, tidas hoje em dia como profissões. Por esse meio, se trocam experiências, se ensinam e adquirem saberes, e se defendem desde lá importantes e inevitáveis interesses.

Muita da evolução humana, pode sem dúvida alguma até dizer-se, não se teria verificado. A nossa civilização não tinha evoluído tanto, e nem sequer a sociedade de bem-estar de que usufruímos pelo menos por agora tinha sido atingida caso dentro de cada grupo cada um fosse unicamente por si.

No Douro, terra de rio e de gente, apesar de nem por isso as mentalidades irem assim muito nesse sentido, no do se criarem grupos de interesses e de gosto, entenda-se, também existem exemplos de associações diversas, entre as quais as de pessoas com os mesmos contextos de modos de vida e de gostos.

A Confraria dos Enófilos da Região Demarcada do Douro, é uma delas desde há vinte anos. Nascida para defender e promover os vinhos da nossa região, paulatinamente vem marcando presença. Tenho para mim que não será fácil numa terra em que cada qual se centra no seu umbigo, dar forma e continuidade a uma agremiação deste cariz, mas desde já há duas décadas, a Confraria mantém-se e recomenda-se.

Poderá ser até que grosso modo muitos a vejam unicamente como um grupo de amigos que se reúne de oras em quando para uns petiscos, mas de modo algum é esse o seu papel, mesmo que nunca fique mal aos seus confrades encontrarem-se em redor de uma boa mesa. Nem haverá de resto melhor maneira para se promover o nosso bom vinho que apreciá-lo na santa paz dos anjos e no aconchego de um alargado grupo de compinchas.

Mas como afirmei, as suas finalidades não se podem ficar por aí. Enquanto núcleo de profissionais e de pessoas que juraram defender a viticultura duriense contra tudo e contra todos, cabe-lhe perfeitamente o papel de promover a discussão ao mesmo tempo que semeia a união, algo igualmente para nós historicamente muito complicado e nem sempre ou quase nunca conseguido, pois ao longo de dois séculos e meio, a passar, foi mais o que desuniu do que o que uniu quem produz e quem comercializa. Faltou sempre um interlocutor válido e reconhecido, foi o que foi.

Obviamente que não me atrevo a defender a exclusividade desde papel para a Confraria dos Enófilos da Região Demarcada do Douro, pois outros há com mais especificidade e competências atribuídas por quem de direito, mas não duvido do contributo essencial que ela pode dar nesse sentido. Basta ela querer e sei que quer, e basta que lhe não faltem os reconhecimentos desse facto, devidamente acompanhados com apoios concretos e definidos que lhe ajudem no sustentar das pernas. Estas não devem tremelicar, pois grande é o desiderato. Por isso, não pode assumir o carrego sem que lhe coloquem uma pequena mão por debaixo. Coloquem-lha pois, e depois exijam dela, que é para isso que ela cá está. Digo eu, pelo menos.
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