Douro - Adega Cooperativa encerra e declara insolvência

Depois de três anos sem crédito e com uma dívida de 2,5 milhões de euros, o desfecho era esperado: A Adega Cooperativa de Vila Flor vai encerrar e declarar falência. A decisão já foi transmitida aos sócios pela direcção demissionária.

O presidente da instituição, Casimiro Fraga, lamenta um cenário inevitável, mas que julgou ser possível contrariar quando lhe tomou as rédeas, em Agosto de 2007. "Nessa altura já havia dois anos de atraso em pagamentos a toda a gente", nomeadamente a bancos, Segurança Social, fisco, fornecedores e sócios que ali entregavam as uvas.

O responsável esperava ser possível pedir dinheiro a um banco para liquidar um empréstimo noutro, como fizera 14 anos antes. "Só que naquela ocasião a adega não estava em situação de incumprimento como agora" e, como tal, na lista negra do Banco de Portugal. Por isso, sublinha Fraga, "durante três anos ninguém nos emprestou um cêntimo".

A direcção que agora se demite bateu a várias portas. À do Governo Civil de Bragança e da Direcção Regional de Agricultura do Norte, e por muitas vezes à da Câmara Municipal de Vila Flor. Em nenhuma encontrou solução.

Era no presidente da Câmara que o director da cooperativa depositava mais esperanças. Sucederam-se reuniões para o sensibilizar. Nada feito. Fraga revela que, antes das eleições autárquicas do ano passado, prometeu-lhe "tratar do assunto da adega muito a sério" após o sufrágio. "Fiquei cheio de fé. Acreditei que ele estava a falar verdade. Mas foi um buraco, não deu em nada".

O autarca, Artur Pimentel, contrapõe que a direcção da cooperativa "nunca pediu ajuda à Câmara". "O que pediu foi que resolvesse o problema da adega, o que é diferente". Explica que ainda participou em algumas assembleias gerais e que a autarquia até "pagou um estudo de viabilidade económica". Para ele, "isto é ter interesse em ajudar".

Mas resolver os problemas da adega implicava meter lá dinheiro e isso, sublinha Pimentel, "nenhuma câmara do país tem condições, mesmo em termos legais, para o fazer, para resolver problemas da iniciativa privada". Admite que o encerramento daquela instituição "é uma perda importante para o concelho" e salienta que "a Câmara continua disponível para ajudar". No entanto, a viabilidade da cooperativa "depende, em primeiro lugar, da vontade dos sócios".

Nos últimos anos foi um empresário de São João da Pesqueira ligado à produção de vinhos que assegurou o funcionamento da Adega Cooperativa de Vila Flor, arrendando as instalações para vinificar as uvas de quem ali as queria entregar. Mas este ano já assim não aconteceu. "Por causa disto e de não termos acesso a qualquer financiamento, achei que já não estava aqui a fazer nada e pedi a demissão", lamenta Casimiro Fraga.

Mas o dirigente abandona o barco com a consciência de que se tivesse conseguido um empréstimo de, pelo menos, um milhão de euros seria possível salvar a adega. "Bastava pagar à Segurança Social e às Finanças, liquidar parte das dívidas a fornecedores e negociar o pagamento a longo prazo do restante". Mas ao ponto a que se chegou, não vê "futuro risonho para aquela casa", que chegou a ter 1500 sócios, maioritariamente dos concelhos de Vila Flor e Carrazeda de Ansiães.

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