Minho e Galiza: dois passos atrás

|Costa Guimarães|

Este ano apenas trouxe más notícias para o desenvolvimento da relação entre a Galiza e o Minho. A enxurrada começou com o adiamento sine die do TGV entre Porto e Vigo e continua agora com a trapalhada das portagens nas SCUT’s veementemente contestadas nas duas margens do Minho.

Outra notícia é o silêncio eloquente da Junta da Galiza e da Comissão de Coordenação da Região Norte, apesar do desalento das associações empresariais de ambos os territórios.

O fluxo de passageiros e de mercadorias entre a Galiza e o Minho é o maior de toda a fronteira luso-castelhana, mesmo sabendo que a história está recheada de obstáculos comuns ao abraço do desenvolvimento social, cultural e económico.

Falam-nos desses obstáculos as deficientes comunicações (apenas uma ponte em Valença), a sua posição periférica em relação às capitais Madrid e Lisboa, a distancia dos grandes mercados e as barreiras alfandegárias

Com a integração na União Europeia, o Minho e a Galiza começaram a derrubar barreiras de modo a constituir a euro-região, concretizada em 2008, corporizando a fórmula mais refinada de cooperação transfronteiriça no coração da Europa.

O financiamento europeu — de 400 milhões de euros — permitiu desenvolver algumas infra-estruturas no meio ambiente, na promoção económica e na cooperação científica.

O Norte de Portugal e a Galiza tem mais habitantes que a Dinamarca ou a Irlanda, bem como um PIB e uma massa critica e capacidade económica necessários para competir com outros territórios.

A proximidade cultural e linguística, a intensidade das trocas comerciais, a permuta de trabalhadores criaram o melhor ingrediente para multiplicar os efeitos da cooperação e criação de redes de relações que sustentam o desenvolvimento competitivo e de qualidade.

Falta a consolidação da sua rede de cidades que existem num eixo de 200 quilómetros entre si e as comunicações são como o pão para a boca na reafirmação de um espaço económico caracterizado pela inovação, desenvolvimento tecnológico e sustentado.

O Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, em Braga, o Campus del Mar em Vigo, a gestão conjunta dos recursos ambientais do Parque Nacional da Peneda-Gerês e da bacia do Minho tornam imprescindível uma rede de infra-estruturas competitiva que seja a espinha dorsal da euro-região e a integre nas redes europeias, aproveitando as sinergias e complementaridades dos seus portos e aeroportos.

A tradição empresarial do mar, desde estaleiros a pescas passando pelos portos tem de ser aproveitada para afirmar o Minho e Galiza como plataforma marítima avançada entre os dois lados do Atlântico.

É um roteiro essencial ao triunfo no futuro: essa rede poliédrica que vai do Porto a Ferrol e passa por Braga, Guimarães, Viana, Vigo, Pontevedra e Santiago. Só assim a massa crítica urbana pode funcionar como um todo sem intermitências e entrelaçado de relações fruídas, em rede, através de um sistema de transporte rápido, moderno e eficaz.

Se este é o caminho — atolado agora com adiamento do TGV e as portagens mais caras do mundo —, nem os galegos nem os minhotos entendem o silêncio daqueles que, por conveniências políticas, estão, desgraçada e criminosamente, a destruir o nosso futuro.
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