Os obstáculos da Região Norte

A pretensão hegemónica dos dirigentes do Porto sobre a Região Norte não corresponde às expectativas que as elites minhotas e transmontanas, sediadas em Braga, Viana do Castelo, Vila Real ou Bragança, depositam na regionalização. A submissão a um poder regional irradiado a partir do Porto parece menos aceitável que a manutenção da actual hierarquia administrativa

O Norte concentra sub-regiões com níveis de desenvolvimento muito diversos. Zonas que se desertificam coexistem com núcleos prósperos, áreas com capacidade organizativa e elites dinâmicas são acompanhadas de espaços sem vitalidade política e sistemas produtivos modernizados.

Os efeitos de fragmentação que daí resultam não constituem o quadro empírico mais apropriado para a assumpção de identidades partilhadas, correspondentes a formas de vida, projectos e interesses de facto homogéneos.

Muito embora no Porto se difunda um conceito de região unitária - a que se outorga uma essência cultural que virá já da fundação da nacionalidade -, enquanto espaço económico e sócio-cultural a administrar em conjunto, a heterogeneidade domina a fisionomia do território, onde desde logo a um litoral expansivo e consolidado se opõe um interior deprimido e desestruturado. Sobrevêm portanto discrepâncias sócio-espaciais arduamente enquadráveis na comunidade de valores e de interesses configurada no plano discursivo.

Finalmente, a própria classe dirigente estabelecida no Porto encontra-se cindida por uma grande concorrência de interesses pessoais e institucionais. A força de agregação que um projecto de regionalização comum pode exercer nessa miríade de interesses e de poderes não é negligenciável, mas essa permanece ainda uma questão em aberto.

|Daniel Francisco|

Comentários

Anónimo disse…
Viva,

Já acompanho o blog há algum tempo apesar de nunca ter feito nenhum comentário. Não podia deixar de comentar a seguinte frase, que me parece um sentimento recorrente dentro de certos grupos supostamente regionalistas:

"A submissão a um poder regional irradiado a partir do Porto parece menos aceitável que a manutenção da actual hierarquia administrativa"

É este tipo de bairrismo bacoco que sempre atrasou e sempre atrasará a luta contra o verdadeiro centralismo. É triste que:

1) se assuma cenários completamente hipotéticos e improváveis (na minha opinião) como sendo uma certeza

2) mesmo por discussão do absurdo se prefira uma centralidade a 300-400 kms do que no máximo a cerca de 100-200 kms (dependendo da divisão escolhida) só porque se nós não o podemos ter então que também não o tenham os nossos vizinhos, mesmo que seja mais benéfico para nós. Assim sempre podemos dizer que apesar de nós não o termos, os nossos vizinhos também não o têm e por isso está "tudo bem". Mesmo que tal situação implique que outros passem a ter esse poder, outros que não têm o mínimo interesse no nosso desenvolvimento nem dos nossos vizinhos

É este tipo de desvios do que é realmente importante que comprometem a luta séria pela regionalização.

Resumindo:

- Não contra bairrismos bacocos

- Não contra capitais regionais

- Sim a favor da regionalização bem feita e apoiada em decisões de cariz técnico e nunca em suposições e medos irracionais

Cumprimentos
Caro anónimo:

Antes de mais bem-vindo ao blogue.
Tendo acompanhado o mesmo nos últimos tempos, de certeza já se apercebeu que eu tenho sempre demonstrado uma posição frontalmente contra o mapa de 5 regiões, e tenho-a sustentado com os mais variados argumentos, desde geográficos a económicos.

No seu comentário destaco quando fala em "regionalização apoiada em decisões de cariz técnico".
Mas que decisões apoiam um mapa de 5 regiões com capitais regionais? Nenhuma!
Os maiores geógrafos portugueses estudaram, no século XX, o território do nosso país de uma ponta à outra, e nenhum deles falou uma vez que fosse em "norte", "centro" ou "Lisboa e vale do Tejo".
Se quer uma regionalização bem feita e apoiada em decisões de "cariz técnico" a última coisa que pode apoiar é um mapa de 5 regiões com capitais regionais.

Cumprimentos,
Carlos Santos disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Santos disse…
"É este tipo de bairrismo bacoco que sempre atrasou e sempre atrasará a luta contra o verdadeiro centralismo. É triste que:

1) se assuma cenários completamente hipotéticos e improváveis (na minha opinião) como sendo uma certeza"

Mentira.
http://i245.photobucket.com/albums/gg64/karlussantus/CCDReditar2.jpg
Todos os relatórios da CCDR-N são prova de um centralismo evidente no Porto, onde os seus projectos e a sua cidade aparecem citados mais do que todas as outras localidades do Norte, numa proporção de quase 70-30 em alguns deles.
Além disso todos os relatórios de execução dos apoios comunitários demonstram desde sempre uma evidente centralização na NUTS III mais rica do Norte, o Grande Porto.

"
2) mesmo por discussão do absurdo se prefira uma centralidade a 300-400 kms do que no máximo a cerca de 100-200 kms (dependendo da divisão escolhida) só porque se nós não o podemos ter então que também não o tenham os nossos vizinhos, mesmo que seja mais benéfico para nós. Assim sempre podemos dizer que apesar de nós não o termos, os nossos vizinhos também não o têm e por isso está "tudo bem". Mesmo que tal situação implique que outros passem a ter esse poder, outros que não têm o mínimo interesse no nosso desenvolvimento nem dos nossos vizinhos"

Qual o interesse do Grande Porto em:
-Ligação ferroviária, Guimarães-Braga-Barcelos-Viana, que deve ser uma luta de todo o Minho, pois só está comtemplada a linha Braga-Guimarães;
-IC Braga-Monção;
-IC Braga-Chaves;
-Melhoria do IP8 tornando-o "efectivo";
-Ligação da VIM à Circular de Braga;
-Variante urbana entre Famalicão e Guimarães;
-Variante Guimarães-Caldelas-Avepark, Braga (em túnel na zona da Falperra);
-Incubadoras de empresas e desenvolvimento tecnológico no Quadrilatero, associados à UM e outras instituições de ensino;
-Desenvolvimento da Marca Minho;
-Promoção do Gerês;
-Promoção dos Vinhos Verdes do Minho;
etc...

O Minho com 1,2M de habitantes, com um núcleo como o quadrilátero de 600.000 habitantes (700.000 se associarem Viana do Castelo), tem tudo para dentro da realidade de Portugal ser uma região.
Além disso tanto Lisboa, como o Porto face ao evidente centralismo que tentam promover em torno de si, devem ser uma região que represente as respectivas Áreas Metropolitanas.

Sem qualquer dúvida a melhor Regionalização foi a proposta pelo PCP de 9 regiões pelo menos no que concerne ao Minho.

"O PCP e o PEV, outros partidos pró-regionalista, apresentou também uma proposta de 9 regiões, embora com ligeiras diferenças:
Minho
Porto e Douro Litoral
Trás-os-Montes e Alto Douro
Beira Litoral
Beira Interior
Estremadura e Ribatejo
Região Metropolitana de Lisboa e Península de Setúbal
Alentejo
Algarve"
Caro Carlos Santos:

Bem (re)vindo ao blogue.

É preciso distinguir entre 2 situações muito diferentes:

*Por um lado, temos as regiões do Interior que não só estão preocupadas com a falta de poder no seio de hipotéticas regiões "norte" e "centro", como também têm o facto de praticamente opostas às do litoral em termos geográficos, económicos, sócio-culturais, morfológico-paisagísticos, etc.

*Por outro, temos o caso de zonas muito parecidas em termos geográficos, económicos e morfológicos com o resto da região onde podem ser integradas, mas que têm receio que nelas se crie um centralismo que as faça não aumentar o seu poder.

No caso das primeiras, temos Trás-os-Montes e Beira Interior. Este problema é fracturante, e, por se tratarem de regiões com poucos ou quase nenhuns pontos de união com as do litoral, é imperioso desde já que se criem regiões específicas para o Interior.

No caso das segundas, onde pontua o Minho, e um pouco também o da Beira Alta (por Beira Alta entendo a região natural, ou seja, a zona de Viseu só, sem a zona da Guarda), não é tanto assim.
O problema não é de fractura, de diferenças. O problema é de lobby e da sua localização (até porque, populacionalmente, a relação Minho/Douro Litoral aproxima-se do equilíbrio). E para isso não é preciso criar novas regiões. Basta dispersar o lobby.
Já tivemos um caso semelhante a esse, nos anos 70, com a criação da Região Autónoma dos Açores e as disputas entre São Miguel e as ilhas do Grupo Central. Tudo se resolveu da melhor maneira, com a distribuição dos poderes pelas até então capitais de distrito- Governo em Ponta Delgada, Assembleia em Angra do Heroísmo, e Governador Civil Regional na Horta. O modelo tem resultado bastante bem, e a região tem funcionado sem problemas de maior.
É isto que acho que se deve fazer neste caso: criar a região Entre-Douro e Minho e distribuir os poderes entre Porto, Braga e Viana do Castelo.
Criar novas regiões pode abrir precedentes perigosos- relembro que, tal como o Minho tem receio do "centralismo" do Porto, também o Alto Minho demonstra ter receio do "centralismo" de Braga. Logo, as reivindicações de novas regiões poderiam proliferar como cogumelos, o que acabaria por prejudicar até as próprias comunidades, já que traçar fronteiras artificiais entre territórios semelhantes não é bom para a dinâmica destes. É, por exemplo, o caso de uma hipotética fronteira entre Minho e Douro Litoral, que separaria concelhos muito interligados, ficando Guimarães, Fafe, Famalicão e Vizela para um lado, e Santo Tirso, Trofa, Felgueiras e Lousada noutro, o que seria prejudicial para toda esta zona do Vale do Ave.

Cumprimentos,
Anónimo disse…
Pois...
Os Exmos Portuenses quando agridem verbalmente Lisboa, esquecem-se que com a Regionalização terão cerca de dois milhões de habitantes a chamar-lhes os mesmos nomes. Provavelmente com igual ou maior razão.
Fernando Silva disse…
Meus amigos.

A regionalização do pais só se fará no mapa das 8 regiões, ou algo do genero.

Nada de nortes, centros e suis porque isso tem como unic objectivo retalhar portugal é é iberismo puro.

os regionslistas cegos do Porto que querem criar a região norte a todo o custo e passar por cima dos trasnmontano e minhotos, na verdade não passam de uns debéis mentais que cairam que nem patos no engodo que espanha lhes lançou com a criação da organização do noroeste peninsular.

Entrou na cabeça do senhor luis filipe meneses e de mais meia duzai de acefalos que no seio da UE iam ressuscitar a galécia.

basta ir ao you tube e ver os videos que por lá andam, norte de portugal+ galiza = galécia.

Acham mesmo que espanha algum dia vai aceitar isso da galécia, se eles não aceitam Portugal iam aceitar a gelecia, deixem-se de loucuras e de projectos pan-galegos.

Para além disso, mesmo que isso da galécia fosse criado o Porto nunca mandarai nada e o poder ficaria diluido no caldo das cidades galegas, vigo-compostela.

No fundo este região norte não passa de um projecto separatistas alinhado com o iberista do senhor jose socrates e que tem como objectivo levar-nos agravitar sobre madrid e meter os Portugueses numa federação com sede em madrid.

A verdade é esta.

Se quiserem discutir a regionalização com seriedade, então façamos isso no mapa das 8 regiões, em tempos fui contra, hoje provavelmente votaria sim, porque no mapa das 8 regiões respeitam-se as identidades historicas nacionais, de minhotos, transmontanos, beirões, ribatejanos, alentejanos e algarvios.

Os senhores do Porto não lhes fica bem, falar de centralismo lisboeta e depois querem eles armar-se em centralistas e colonizadores dos transmontanos em primeira linha e dos minhtos.

Cada macaco no seu galho, e para la´do marão mandam os que lá estão.

E não vale a pena vir com o argumento populacional, Tras os Montes tem tanta população como o algarve, e um pouco menos que o alentejo,mas o que conta para as estatisticas é os habitantes por km2, e ai o alentejo fica em ultimo lugar.

Depois o Minho tem tudo para ser uma região.

Bem como o Porto, que é por si só uma cidade região.

Cumprimentos e boas festas.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

1. O Norte, como entidade de desenvolvimento, não é absolutamente nada.
2. Estou convencido que se se extinguirem as CCRD de todo o País, não se notará diferença nenhuma.
3. É profundamente bacoco e provinciano andar a propalar sempre 'os interesses da Região Norte'.
4. Parem para pensar um pouco mais profundamente e verificarão como andam tremendamente enganados e os promotores da Região Norte a enganar os outros.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)