Até quando?

|Alberto Castro|

Ao segundo dia do ano, a primeira página do JN enche-se com uma boa notícia: têxtil e vestuário batem recorde de exportações. Não é bem assim: a taxa de crescimento terá sido a maior de sempre o que, a seguir a anos maus, não é exactamente a mesma coisa. Uma boa notícia, em qualquer caso, sobretudo por indiciar uma dinâmica que, tudo indica, se prolongará para 2011.

Tal como no calçado. Depois da saída das grandes empresas de capital estrangeiro que estavam por cá apenas pelos baixos salários, depois do encerramento das empresas incapazes de se modernizarem ou mudar o seu modelo de negócio, sectores que muitos davam como mortos e enterrados fazem uma segunda prova de vida.

Será mesmo assim, interrogar-se-ão os que ainda têm na retina a primeira página do JN de há uns dias, assinalando o recorde de desemprego na Região do Norte. A pergunta é lógica: tanto o calçado como o têxtil ou o vestuário são indústrias tipicamente nortenhas cujo bom momento, aparentemente, não se estará a transmitir ao conjunto da região.

Para baralhar mais as contas, ouvem-se os empresários lamentar a falta de pessoas disponíveis para trabalhar, ao mesmo tempo que manifestam o receio de que o aumento do salário mínimo possa pôr em causa a sua capacidade competitiva. Para tornar tudo ainda mais nebuloso, a análise do universo dos desempregados evidencia que o grosso dos que estão nessa condição há mais tempo têm baixa escolaridade e qualificação.

Ou seja, temos a oferta de emprego adequada para muitos dos que estão desempregados, mas por um preço que estes não estão dispostos a aceitar. E temos empresas a atravessar um bom momento, mas indisponíveis quer para pagar mais tanto aos que já empregam como aos que lhes fariam falta para aumentar a produção para a qual, dizem, encontrariam mercado. Se conseguíssemos desatar este nó cego, talvez a região pudesse deixar de liderar a tabela do desemprego e conseguisse recuperar o protagonismo que sempre teve nas saídas da crise. O país agradeceria.

O que falta? Para alguns, quase tudo: olham para a região e vêem mais do mesmo. Os mesmos sectores, a mesma lógica de competir pelos custos. Embora haja alguma diversificação no padrão das exportações regionais, são ainda, e sempre, os mesmos produtos que lideram a tabela, os únicos, aliás, que continuam, a nível nacional, a apresentar um saldo comercial positivo.

As mudanças não ocorrem por desejo, nem de um dia para o outro. Levam o seu tempo, sobretudo quando as condições de base são as que são, nomeadamente em termos de qualificação do trabalho. Não se podem fazer omeletas sem ovos. Não é possível fazer melhor?

Talvez um olhar para a Galiza nos ajude. Há dez anos, quando se fez uma comparação entre as duas regiões, a discrepância mais notória ocorria na taxa de desemprego: baixa no Norte (cerca de 5%), alta na Galiza (mais de 12%).

Veio a crise. Por cá o desemprego disparou, tendo ultrapassado os 13%. E por lá? Parece que já é mais baixo que o nosso! Pergunta-se a razão e dizem-nos que o governo autonómico procurou desenhar políticas adequadas aos problemas da Galiza. Enquanto isso, por cá, insiste-se em soluções únicas, centralizadas, paternalistas, tratando por igual o que é diferente. Até quando?

|JN|
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Comentários

PMP disse…
Ponham os professores universitários como este a resolver problemas em vez de andarem sempre a dizer o mesmo.

Ao fim de 20 anos já chateia.