PARA QUÊ REGIONALIZAR O QUE JÁ ESTÁ “REGIONALIZADO”?

|Mário Dorminsky|

Ainda pensei que, por ser Inverno, tivesse sido assaltado por uma febre súbita. Mas voltei a ler a notícia e não: estava lá. Houve mesmo quem propusesse que a região-piloto (a eventual rampa do processo de Regionalização) fosse em Lisboa(!) e há um mês falou-se no Algarve…em tempos de Fantas, valerá a pena dizer que tais ideias são “fantásticas”!

Como é que se pode “gozar” com um tema tão sério e importante como este? Se fosse o Minho e Grande Porto, áreas que integram a região “mais pobre da Europa”, aí sim, notar-se-ia coragem e vontade dos nossos governantes de levar para a frente este, que para mim é um desígnio nacional mas…este Norte continua (e continuará infelizmente por alguns anos mais…) a ser qualquer “coisa” residual para este país minúsculo a que se chama “Lisboa”.

Ironia e sarcasmo de parte, esta introdução serve-me apenas para ponderar muito seriamente sobre a existência de uma corrente ideologicamente bem preparada, que não consegue vislumbrar soluções politicas e orgânicas para o Pais que não aquelas que centralizam, como disse, todo o Poder na capital.

E pergunto-me se ainda vale a pena continuar a explicar, tal como se explica a uma criança de cinco anos, que o Centralismo coloca toda a máquina do Estado num único local, que o Poder faz convergir para esse local todos os centros de decisão, sejam eles públicos ou privados e que isso é desastroso para o País.

Basta ver que mais de metade dos fundos comunitários continuam a convergir para Lisboa e que o rendimento per capita de um cidadão da Grande Lisboa é, na maioria dos casos, quase mais um terço que no resto do Pais.

Três décadas depois de implantada a Democracia, custa-me que o velho jargão do antigo e caduco regime ainda esteja na ponta da língua dos que desabafam as agruras no Porto, Bragança, Castelo Branco, Beja ou Faro: Lisboa é cidade e o resto é a tal “paisagem”.

O problema é que ainda por cima é uma “paisagem” que definha continuamente. Enquanto se perora sobre as virtualidade do TGV (tê-las-á, mas falta-nos dinheiro e estratégia séria para também ter palavra sobre o tema), fechou mais uma fundamental estrutura de saúde pública em zona deprimida: Celorico de Basto. O Serviço de Atendimento Permanente (SAP) agora encerrado não servia apenas aquele concelho, será importante referir.

Os critérios meramente economicistas de hoje (que poupam uns euritos para se enganar os critérios públicos das Finanças) vão ser caríssimos para a sociedade no futuro próximo. Na realidade, aqui pelo Norte e por outras regiões já o estamos a pagar...

Não fazer a Regionalização é continuar a pôr mais de metade dos Portugueses a pagar as facturas dos restantes. É travar o desenvolvimento e acentuar assimetrias. Não regionalizar é continuar a permitir o envelhecimento das comunidades e a desertificação interior e até do Norte em geral.

Por isso, dizer que Portugal não pode gastar agora dinheiro a reciclar o regime é enganar as pessoas, é mentir aos cidadãos. O País – este regime – tem é de ser reciclado. A Democracia tem que melhorar as suas ferramentas ao nível da cidadania. E uma delas é, indubitavelmente, a Regionalização.


PS.
Para tornar ainda mais claro o que acabei de escrever, e peço desculpa de falar de uma situação que tem a ver directamente com um evento que organizo, creio que leram, ou ouviram nos Media, que o Ministério da Economia, que tutela o Turismo em Portugal (melhor, o turismo em Lisboa e no Algarve, dado que “a paisagem” que é o resto do país, neste caso parece que também não existe, nem deve ser promovida) conseguiu, através de subterfúgios legais, anular a decisão do plenário da Assembleia da República (!) de atribuir uma verba extra de 100 mil euros ao Fantasporto de 2010, verba destinada à promoção internacional deste e do Norte do País.

Mas não chegando isto, este ano e, ao contrário do que aconteceu recentemente com um festival de cinema realizado no Estoril e que recebeu 700 mil euros do Turismo de Portugal, o Fantas obteve, através de ter concorrido ao programa estatal de intervenção turística, 35 mil euros, menos 1/3 do que no ano passado tinha recebido (informação anteontem recebida oficialmente).

Este é só mais um exemplo das tais assimetrias existentes…da forma como Lisboa olha o Norte e, neste caso, como “apoia” o maior certame cinematográfico do País (quer queiram, quer não), evento considerado nos meios da indústria do cinema Mundial como um dos 25 maiores festivais de cinema do Mundo, um leading Festival “made in Portugal”. É bem mais fácil chegar ao “estrangeiro” e aí ser reconhecido, do que tal vir a acontecer (mesmo trinta antes depois deste ter sido criado) neste país à beira mar plantado.
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Comentários

portodocrime disse…
Apesar de surgir nos últimos anos como um marco importante no Partido Socialista, a moção de estratégia do secretário-geral do PS adia a regionalização. Em causa está o facto de não estarem reunidas condições para a realização de um referendo nesta legislatura.

«O facto é que, neste momento, as circunstâncias económicas e políticas – em boa parte dada a recusa do PSD em avançar efectivamente para a regionalização – não favorecem, de todo, este movimento. Ignorá-lo seria um sinal de falta de lucidez, que poderia conduzir à definitiva derrota da ideia da regionalização», refere a moção de estratégia de José Sócrates.

Deve-se «reconhecer que não estão reunidas as condições para a realização do referendo sobre a regionalização nesta legislatura», lê-se na moção. No entanto, Sócrates reafirma a «defesa da ideia da regionalização» bem como a exigência de um referendo nacional
Grande Filho da puta
Manuel disse…
Esse mapa não corresponde à realidade do pais.

É mais do genero, faixa litoral entre Viana do Castelo e Setubal, que inclui obviamente Porto, Braga, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarem e Lisboa e depois temos o Algarve.

É aqui que está a riqueza do pais.

O resto é que está numa situação difente, a industria e a riqueza esta sediada nesta faixa litoral.

Por isso é que eu defendo que a regionalização tem que ser no mapa das 7 ou 8 regiões, para criar desenvolvimento no interior, dai a necessidade da criação de regiões no interior.

Regionalizar no mapa das 5 regiões era aquilo que eu chamo a mudança na continuidade, ou seja, não mudava nada, ficava tudo na mesma, criavamos apenas ais uns centralismos pelo pais fora.

Isto tem que ser feito de uma vez, ou então estejamos quietos.

Fiquem bem.