«Há cerca de 300 lobos no nosso país agrupados em 63 alcateias»

«Não é fácil ver um lobo»

Demonstrar que é possível coexistência pacífica entre lobos e pastores é a cruzada de Sílvia Ribeiro, bióloga e responsável pelo programa «Cães de Gado». Sempre teve animais em casa, sobretudo cães, como o «Dique» (um pastor alemão que morreu velhinho).

Na década de 70, havia lobos no Alentejo, mas hoje estão, no essencial, acantonados entre o Gerês e Trás-os-Montes. De acordo com o último censo, há cerca de 300 lobos no nosso país agrupados em 63 alcateias, das quais 54 a norte do Douro, e apenas nove a sul, onde a espécie está mais ameaçada - o rio é uma barreira importante.

Ameaçado pelo ódio ancestral dos pastores (que não lhes perdoam os prejuízos dos seus ataques aos rebanhos), pelas auto-estradas e parques eólicos, que lhe invadem o habitat, e ainda pela escassez da sua alimentação tradicional (veado e corço), o lobo ibérico muito provavelmente já estaria extinto em Portugal se não fossem os esforços para o proteger desenvolvidos pelo Grupo Lobo, uma ONG fundada há 26 anos por Francisco Petrucci Fonseca, professor Faculdade de Ciências de Lisboa.

"Não temos qualquer tipo de apoio regular por parte do Ministério do Ambiente", esclarece Sílvia Ribeiro que mal acabou o curso de Biologia, em Lisboa, se mudou para Vila Real, onde está o quartel-general do programa Cães de Gado do Grupo Lobo - que vive dos prémios que ganha (um dos mais recentes foi o Biodiversidade, atribuído pelo BES) e dos projectos que consegue aprovar.

Sílvia - que acaba de ser distinguida pelo prémio europeu Terre des Femmes 2011, instituído pela Fundação Yves Rocher para premiar mulheres empreendedoras na área do ambiente - nasceu e cresceu no Seixal, onde se habituou a lidar com animais, pois os avós tinham cães de caça e criavam coelhos, porcos, burros e vitelas.

Sempre teve animais em casa, sobretudo cães (que prefere aos gatos), como o Dique (um pastor alemão que morreu velhinho), o Ameijoeira (um castro laboreiro vitimado em 2004 por um ataque cardíaco). Agora tem uma cadela serra da estrela que, "para ser original", baptizou Estrela. Não espanta por isso que na hora de escolher o curso o seu coração tenha balançado entre Veterinária e Biologia.

Demonstrar que é possível a coexistência pacífica entre lobos e pastores é a cruzada da Sílvia. Ressuscitar o método tradicional de uso de cães de gado para proteger os rebanhos, é a sua principal arma para aumentar a tolerância das comunidades rurais face ao lobo.

"Não é fácil ver um lobo. Em 15 anos só os vi três vezes. O lobo tem um comportamento furtivo. Não arrisca um ferimento e por isso não entra à maluca num rebanho guardado. Se pressentir um cão, tem o cuidado de se pôr contra o vento, para o cheiro não denunciar a sua presença. E só ataca pela certa, apanhando uma ovelha ou cabra, doente ou coxa, que fica para trás", explica Sílvia,...
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|DN|
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