Interior: Falta de medidas de desenvolvimento é mais grave que no tempo de Salazar

O vice-presidente da Câmara de Penamacor, António Cabanas (PS), afirmou que “em matéria do interior até Salazar foi melhor que os governos pós-25 de Abril”, ao criticar a falta de medidas de desenvolvimento, que ele e outros responsáveis consideram urgentes.

António Cabanas falava na sessão de abertura do seminário Desenvolvimento Regional e a Desertificação Rural no Contexto Transfronteiriço, promovido em Penamacor pela União de Sindicatos do Distrito de Castelo Branco (USCB).

O autarca frisou que condena o regime fascista, “não me interpretem mal”, sublinhou, mas traçou a comparação para destacar a gravidade “a que chegou a centralização do Estado”.

Para o autarca, “em matéria do interior, até Salazar foi melhor que os governos do pós-25 de Abril, apesar das vicissitudes e defeitos e nem vale a pena falar deles porque foram muitos”.

Seja como for, “para o mundo rural, Salazar pelo menos tinha políticas, coisa que não temos tido nos últimos anos”, destacou.

O vice-presidente de Penamacor teme que as medidas de austeridade agravem o fecho de serviços públicos e defendeu que, em vez disso, se avance com a regionalização “para a região se desenvolver”, apontando como bons exemplos “os arquipélagos da Madeira e dos Açores”.

Entre 2004 e 2009, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o distrito perdeu oito mil habitantes, destacou Luís Garra, presidente da USCB, que também defendeu a regionalização e pediu “maior coesão na distribuição de fundos comunitários”.

Do total dos projetos aprovados ao abrigo do sistema de incentivos às empresas, do Quando de Referência Estratégico Nacional (QREN), “o distrito de Castelo Branco tem um peso de 2,4 por cento”, referiu, com o meio rural praticamente deserto de população e empresas.

O cenário português contrasta com o da raia espanhola, onde, por exemplo, na região da Extremadura. Aí, “65 por cento da população vive em meio rural, muito acima dos 18 por cento da média espanhola”, destacou Ramón Barco, sindicalista das Comisiones Obreras (CCOO) de Espanha.
As grandes empresas “estão mesmo situadas no meio rural”, acrescentou.

Anabela Diniz, docente da Universidade da Beira Interior (UBI), investigadora na área do desenvolvimento regional, questionou o encerramento generalizado de escolas em Portugal, defendendo uma análise cuidada de cada caso.

Sendo certo que “não pode haver estabelecimentos com poucos alunos, também não se atraem famílias para os territórios se o ensino obrigar a percorrer muitos quilómetros diariamente. Há uma proximidade mínima que tem que ser garantida”, sublinhou.

A existência de escolas é uma das peças de marketing territorial que Anabela Diniz defende para repovoar as áreas rurais, “mas não se o pode confundir com publicidade: o marketing territorial é a criação de medidas”.

A investigadora aponta a ligação da região a outras, dentro e fora do país, com laços sociais, culturais e económicos, por forma a criar redes com escala que permitam o desenvolvimento de negócios.

De acordo com Anabela Diniz, “não falta gente que investiga e traça estratégias”, mas falta muitas vezes, “atenção de quem governa” para as soluções apontadas: “se não houver mais gente na região e nos territórios rurais, nada feito”, concluiu.

Diario Digital Castelo Branco/Lusa
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