PORTUGAL: UM PAÍS DESIGUAL PARA OS PORTUGUESES

De acordo com os dados do INE, o poder de compra médio de uma habitante por regiões é o seguinte:

  • Região Norte é apenas 86,24% do poder de compra médio “per capita” nacional (100%);
  • Região Centro é 83,76%;
  • Região de Lisboa é já 136,85%, ou seja, é superior ao poder de compra “per capita” médio nacional em 36,85%;
  • Região do Alentejo corresponde apenas a 87,33% do nacional;
  • Região do Algarve é de 103,65%, ou seja, é superior ao poder de compra médio “per capita” nacional em 3,65%; 
  • Região dos Açores, poder de compra médio de uma habitante é apenas 83,62% do poder de compra médio “per capita” nacional; 
  • Região da Madeira corresponde a 95,46% do poder de compra médio “per capita” nacional.

Se fizermos uma análise mais fina, ou seja, por sub-regiões as desigualdades de poder compra são maiores e mais evidentes. Assim, o poder de compra médio de um habitante da sub-região do Tâmega é apenas 61,34% do poder de compra médio per capita nacional, enquanto o poder de compra médio da sub-região da Grande Lisboa é 147,87%, ou seja, 2,4 vezes superior ao poder de compra médio “per capita” de um habitante da sub-região do Tâmega.

Se a análise for feita por concelho, que é o nível de análise mais desagregado que os dados do INE permitem fazer, a desigualdade de poder de compra é ainda maior. Segundo o INE, o poder de compra médio “per capita” do concelho de Lisboa é de 235,74%, ou seja, 135,74% superior ao poder de compra médio “per capita” nacional, enquanto o de um habitante do concelho de Santana da Região da Madeira corresponde apenas a 49,55% do poder de compra médio “per capita” nacional; por outras palavras, o poder de compra médio de um habitante do concelho de Lisboa é 4,7 vezes superior a um madeirense do concelho de Santana

No período 2005-2009, as verbas totais do PIDDAC, que tem como objectivo combater as assimetrias regionais, sofreu uma forte redução de -39,6% em valores nominais, porque em valores reais, ou seja, entrando com os efeitos da inflação a diminuição foi ainda maior. Entre 2005 e 2009, de acordo com os dados dos Relatórios dos Orçamentos do Estado, as verbas totais do PIDDAC passaram de 6.724 milhões de euros para apenas 4.061 milhões de euros.

Se a análise for feita por distritos constata-se que os distritos mais afectados por cortes nas verbas para investimentos públicos foram precisamente alguns dos menos desenvolvidos. Entre 2005 e 2009, as verbas para investimento público constantes do PIDDAC diminuíram em - 56,2% para o distrito de Aveiro; em -46,9% para o distrito de Beja; em -45,2% para o distrito de Braga; em - 68,1% para o distrito de Castelo Branco; em -61,3% para o distrito de Évora; em -46,3% para o distrito da Guarda; em -62,9% para o distrito de Leiria; em -73,2% para o distrito de Santarém; em -43,8% para o distrito de Viseu; e em -77,2% para a RA da Madeira; portanto, reduções todas elas superiores à diminuição do valor total do PIDAAC no mesmo período (2005/2009) que foi de - 39,6% :

Uma das características da sociedade portuguesa é precisamente a profunda desigualdade que se tem agravado nos últimos anos que, com a crise actual e com o aumento do desemprego, têm tendência a piorar nos próximos anos se as graves assimetrias regionais não forem efectivamente combatidas, o que não se consegue fazendo só mais auto-estradas e TGV´s. Para além de ser um problema social grave, elas constituem um obstáculo importante ao crescimento económico e ao desenvolvimento, porque estão associadas ao baixo poder de compra da maioria da população.


|Eugenio Rosa|
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Comentários

Anónimo disse…
É o contrário! TGV's só agravam as assimetrias; ou será que servirão para ligar aldeias! A canalização dos fundos financeiros para os grandes investimentos, só por si, decreta/determina assimetrias não só no imediato mas, o que ainda é mais grave, com efeitos multiplicadores no longo e longuíssimo prazo.
Quanto aos estatísticos do INE, cuidado, vêm do centralão e já têm servido, por encomenda expressa, para justificar decisões politicas catastróficas!
Um abraço especial para o editor.
gu
Pedro disse…
O meu asco aumenta exponencialmente a cada dia que passa. É inacreditável a incompetência que grassa na governação deste país e as desigualdades conscientemente criadas e aumentadas.
Gu: Um grande abraço e bem-vindo a este espaço de cidadania onde se trocam ideias sobre um Portugal que poderia e deveria ser diferente.

Nós por aqui estamos mais focados nas questões administrativas e nas suas implicações no estado actual das coisas.

Quanto ao TGV, tenha uma opinião diferente. Penso que os países periféricos da UE, exactamente por serem periféricos têm muito a ganhar com esta infraestrutura ferroviária de transportes. A ligação à Europa para nós é estratégica. Todavia, no actual contexto económico e financeiro, defendo que estas grandes obras públicas têm que ser adiadas.