E agora, o Norte aqui tão perto?

As eleições de domingo passado abriram um novo ciclo político. Por “novo ciclo” entenda-se não apenas uma mudança realista e necessária dos protagonistas do poder, mas também, inevitavelmente, uma nova forma de governar e, consequentemente, de se fazer política.

A emergência financeira do Estado, assim como as condições que nos são impostas pelo Memorando de Entendimento entre Portugal e a UE/FMI, imporiam, sempre, de qualquer modo, uma mudança de hábitos e de estilos políticos.

Estou convencido que novos actores emergirão, mais fundamentados e com um sentido de acção mais técnico e rigoroso – sentido esse que não tem norteado muitos dos que povoam, recorrentemente, o palco da nossa “res publica”. De resto, haverá, ao nível da governação, pastas que serão tão ou mais discutidas e decididas em Bruxelas do que em Lisboa, com interlocutores mais interessados em soluções concretas e realmente sustentadas do que em declarações redondas, no fundo, de “ar e vento”!

Na verdade, pessoalmente, tenho, por vezes, a sensação de que a nossa actividade política se tem vindo, cada vez mais, a transformar numa inconsequente actividade palavrosa, em que os protagonistas mais mediatizados repetem, sem uma ideia original, nem um pingo de pensamento próprio e livre, as orientações oficiais do respectivo partido. De agora em diante, a actividade dos políticos terá um teste objectivo: traduzir-se em soluções adequadas para a resolução dos graves problemas que enfrentamos. Nesse sentido, a política e os políticos terão que, mesmo à força, melhorar!

Ora, um dos desafios que teremos que enfrentar, sem mais delongas, nem pseu-soluções, consiste na reforma do funcionamento do Estado. Por razões financeiras, mas também por imperativos de justiça, de coesão territorial e garantias de eficiência, a longo prazo. Tal é, igualmente, requerido (imposto) no referido Memorando. Há vários prismas de abordagem dessa reforma. Até agora, tímida e um pouco avulsamente, foi avançado o objectivo de se reduzirem concelhos e freguesias. Claro está que a verdadeira e decisiva reforma do Estado passa(rá), quer se queira, quer não, pela institucionalização, em concreto das regiões administrativas (regionalização). Ou seja, por cumprir a Constituição.

O país e o Norte (essa designação tipicamente Lisboeta, para o “resto do país”, para cá de Vila Franca de Xira!), terão bastante a ganhar com uma regionalização descomplexada. Se acabar, mesmo indirectamente, por nos ser imposta via UE/FMI (independentemente das hesitações, más vontades políticas ou sensibilidades culturais centralistas, reinantes nos meios do poder), então, a ajuda externa, diabolizada por alguns dos perdedores de domingo, já se justificará…. mesmo para além da fuga à bancarrota!

Pedro Madeira Froufe no grandeportoonline.com
.

Comentários

zangado disse…
Já é mais do que tempo de muitos dos políticos que nos têm governado responderem em tribunal pelas asneiras e outros actos que praticaram.
Com o centralismo lisboeta e a colonização efectuada pela sua comunicação social, principalmente das televisões, a coesão nacional diminui cada vez mais, devido às enormes disparidades entre o que a zona de Lisboa recebe, mesmo ilegalmente, e o que recebem as outras regiões do País.Esta grande desigualdade entre as várias regiões de Portugal colocam, cada vez mais, em risco a unidade nacional. Depois os centralistas dirâo: a culpa é dos que se recusam a continuar a aceitar o nosso direito a ter tudo e eles não, deviam continuar submissos e obedientes!
Se isto não leva uma grande mudança, a unidade nacional ica em perigo. Portanto - Igualdade ou ...
Portugal primeiro, Lisboa não!