Uma aldeia com população zero

Cabrum, em Calde (Viseu), é uma aldeia que chegou à população zero. Morreu.
Uma amostra do que pode acontecer a largas centenas de povoados por esse país fora.



Comentários

Rui Farinas disse…
Alguem me explica qual o mal da desaparição de aldeias que não têm condições mínimas de sobrevivência?
Caro Rui Farinas:

Qual o problema? O problema é que o abandono de aldeias contribui cada vez mais para uma ocupação desequilibrada e irracional do território.

Num país que precisa como pão para a boca de investir em agricultura, o abandono dos locais onde esta tem melhores condições para ser praticada, é um péssimo sinal.

Nem são tanto localidades como Cabrum, que se resume a uma praça com menos de uma dezena de casas, que são preocupantes. O que é preocupante é a tendência. É que a seguir a lugares destes vêm as verdadeiras aldeias, onde outrora houve largas centenas de moradores e hoje restam poucas dezenas. E depois vêm as vilas, e até as cidades do Interior já estão a perder população.

Há aldeias e pequenas vilas que são verdadeiros centros à escala micro-regional (referência para partes de um determinado concelho), que estão em vias de desaparecer. E não são terras como Cabrum- são povoados de dimensões consideráveis que em muitos casos já foram até sede de concelho.

Olhemos, por exemplo, para a população de algumas Aldeias Históricas, algumas das quais já chegaram a ter mais de 1000 habitantes:

Idanha-a-Velha: 79 hab.
Sortelha: 90 hab.;
Castelo Mendo: 134 hab.

Todas estas terras já foram sede de concelho, e são as maiores aldeias das redondezas. Idanha-a-Velha já foi até sede de bispado. E estão assim.

Tudo isto enquanto a população se amontoa à volta de Lisboa e Porto como "sardinha em lata" e, aí sim, com parca qualidade de vida.

Cumprimentos,
Al Cardoso disse…
Nao podia deixar de concordar com o amigo Dr. Ribeiro. So no meu municipio aldeias como Cabrum ja estao desertas muitas a alguns anos. Mas por exemplo a de onde sou natural (Vila Cha d'Algodres) que embora pequena, chegou a ter cerca de tres centanas de habitantes presentemente nem uma tem e, isso a mim enche-me de uma grande tristeza, porque esta muito bem situada e bem servida por uma estrada nacional!

Um abraco de amizade regionalista.
Rui Farinas disse…
Caro João M. Ribeiro,agradeço o seu comentário-resposta, com o qual estou totalmente de acordo. Só que, embora falemos basicamente da mesma situação -o esvasiamento do interior de Portugal- eu me referia especificamente às aldeias " que não têm condições de sobrevivência". Quem conhece o interior sabe que elas existem. Pequenos aglomerados que nasceram quando a actividade agrícola era basicamente de sobrevivência, em localizações economicamente insustentaveis, e frequentemente com características de construção que hoje não aceitamos para habitação de humanos. Por estas e outras razões, foram sendo inexoravelmente abandonadas.
Acredito que a grande maioria das nossas aldeias não caiba nesta descrição. A origem do seu declínio e morte, é outra.É uma não confessada intenção dos governos de dar cabo delas. A continuação desta politica levará à desertificação do interior de maneira mais segura do que se ela fosse imposta por decreto-lei. Qual a vantagem que o país tirará dessa situação, ignoro.