Tráfego transfronteiriço

Em relação ao tráfego transfronteiriço o melhor é ver os números do Observatório Transfronteiriço Portugal-Espanha. Valença-Tui é claramente a fronteira mais utilizada seguida a sul pela de Ayamonte e depois Vilar Formoso.

No tráfego de passageiros a mais importante é novamente Valença-Tui e no de mercadorias é Vilar Formoso. Caia-Badajoz fica bastante abaixo de qualquer das citadas qualquer que seja o ângulo de análise.

Percebe-se pouco, na realidade, a prioridade dada ao TGV Lisboa-Badajoz-Madrid a não ser por razões de umbiguismo e parvoíce centralista.



|António Alves|
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Comentários

Fronteiras disse…
Como especialista em fronteiras, sinto discordar com o autor. A fronteira de Caia/Badajoz é muito transitada tanto por pesados como por ligeiros.

Valença/Tui é obviamente a fronteira mais movimentada porque as relações entre a Galiza e a região de Entre-Douro-e-Minho são particularmente intensas. Além do mais, são típicos os autocarros cheios de turistas galegos ou do resto de Espanha que fazem a clássica visita ao mercado de Valença que tem lugar as quartas-feiras.

VRSA/Aiamonte tem a sua importância sobretudo no turismo, quer de espanhóis da Andaluzia que costumam ir às praias algarvias ou aos centros comerciais, quer de portugueses que vão atestar o carro às bombas do outro lado do Guadiana ou passar férias em Isla Antilla ou Isla Cristina, quer de estrangeiros que entram de carro/caravana/mota ou que utilizam o aeroporto de Faro para irem às praias de Huelva.

A fronteira de Vilar Formoso fica em terceiro lugar segundo o apuramento português mas em quarto segundo o apuramento espanhol que não nos é apresentado no gráfico. Esta fronteira é basicamente uma fronteira onde o trânsito de pesados tem um peso específico, visto tratar-se da via de saída para a Europa para quem se dirige para o oeste da França, Alemanha os países do Benelux ou o Reino Unido. O trânsito de ligeiros é importante pela chegada dos emigrantes, mas quanto ao trânsito local, a região tem pouca população e as localidades importantes ficam separadas umas das outras: 40 km. da Guarda até a Fronteira, 25 da fronteira até Ciudad Rodrigo e 65 da Guarda, 110 da fronteira até Salamanca e 150 entre a Guarda e Salamanca.

A fronteira do Caia, certo, caracteriza-se por um menor peso de trânsito de pesados, mas seria a terceira fronteira segundo o apuramento espanhol e a quarta com uma ridícula diferença relativamente à terceira (pouco mais de 300 viaturas num total de mais de 8 000) segundo o apuramento português. Para quem conhece a região (e eu sou uma dessas pessoas) resulta óbvia a importância de Badajoz (cidade de 150 000 habitantes) como cidade para fazer compras ou para os tratamentos de saúde. Mas os espanhóis de Badajoz também costumam visitar a cidade de Elvas e a vila de Campo Maior, que com apenas de 8 000 habitantes, apresenta um trânsito diário de quase 2 200 viaturas. As idas aos restaurantes, às compras na cidade de Elvas, aos estabelecimentos comerciais, sobretudo aos Domingos, são são desprezíveis. Para não falar do trânsito que vai para Lisboa.

Argumentar que o Caia fica bastante abaixo das outras e dizer que a prioridade do TGV pela região é mais uma amostra de umbiguismo centralista é desconhecer a verdade.

Para uma pessoa que escreve do Porto, deveria saber que o eixo fundamental para o país em linhas de alta velocidade deveria ser o Eixo Atlântico entre Corunha e Lisboa. Mais do que criticar o TGV pelo Caia, a crítica deveria estar centrada no abandono da linha Porto-Vigo. As razões são óbvias: uma linha completa entre Corunha e Lisboa daria ao Porto uma nova centralidade que não interessa a «Lisboa». Isto, complementado com a linha Aveiro-Salamanca, faria tudo o resto.

Mas na linha do Alentejo não deve desprezar-se o factor importantíssimo de ligar o Porto de Sines com a Plataforma Logística do Caia, que essas cifras não contemplam. O Alentejo também tem direito ao desenvolvimento e certamente todos concordam em que a linha de mercadorias entre Sines e o Caia não passa por Lisboa.

Atacar o centralismo, sim, mas com dados reais, por favor.

Lamento a extensão deste meu comentário e espero que contribua a dar outro ponto de vista e animar o debate.

L. Seixas.