Barragem do Tua põe em risco Património Mundial no Douro

EDP obrigada a reformular o projeto da Barragem do Tua

O Comité do Património Mundial da UNESCO considera que a construção da barragem de Foz Tua tem um "impacto irreversível e ameaça os valores" que estão na base da classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial. Esta é uma das conclusões do relatório da missão consultiva que, a solicitação do Governo português, visitou o local no início de Abril e que aponta ainda para outros impactos negativos e graves do empreendimento.

O documento foi produzido pelo Icomos, uma associação de profissionais da conservação do património que é o órgão consultivo daquele comité da UNESCO.

O relatório foi concluído em finais de Junho e remetido ao comité, que o enviou depois para as autoridades portuguesas já em Agosto, por protocolo diplomático, via Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas permanece ainda no segredo os gabinetes, não sendo conhecida qualquer reacção ou resposta do Governo.

Além de analisar os impactos e as consequências do avanço da obra para a área de paisagem classificada como património da humanidade, o relatório critica também duramente o comportamento das autoridades portuguesas.

Como explica a dirigente do PEV Manuela Cunha, “a UNESCO não tem poder de impor ao Estado português, apenas de fazer recomendações”, mas em última instância pode avançar para a “desclassificação, se concluir que o objeto da classificação foi desvirtuado”.

Nos últimos anos registaram-se dois casos em que a Unesco retirou a classificação de Património Mundial: na cidade de Dresden e em Omã.

Ora, face a estes novos desenvolvimentos a EDP viu-se obrigada a reformular o projeto da central elétrica da barragem de Foz Tua para enquadrar a obra no Douro Vinhateiro Património da Humanidade e criar mais um motivo de atração e valorização.

O diretor geral do projeto da barragem, Freitas da Costa, explicou, durante uma visita ao local, que a EDP está a trabalhar com “o arquiteto de reconhecido prestígio internacional Souto de Moura para conseguir a melhor solução possível e para que a barragem venha a constituir um valor acrescentado para o local”.

Segundo disse, a barragem em si, ou seja o paredão, fica no limite, na zona tampão, do Alto Douro Vinhateiro, e a central de produção de energia é que já se encontra em pleno Património da Humanidade.

Freitas da Costa acrescentou que, dentro de cinco anos, quando a obra estiver concluída, quem passar na zona do Douro Vinhateiro, nomeadamente os turistas que viajam de barco, “vai ver a barragem”, mas garantiu que a empresa está a fazer um “imenso trabalho ao longo da albufeira e zona envolvente para que se consiga uma integração o melhor possível”.

“Tenho a certeza de que a solução que vai ser construída vai ser muito boa do ponto de vista do enquadramento ambiental e vai ser, sendo um projeto do arquiteto Souto Moura, mais um motivo de atração e de valorização desta região”, acrescentou.

Freitas da Costa sublinhou que existem no país “bons exemplos” de barragens que se tornaram um símbolo, nomeadamente na região transmontana.

A barragem de Picote, no Douro Internacional foi classificada, este ano, como monumento de Interesse Público, “reconhecendo-lhe a qualidade arquitetónica e de integração no meio em que está inserida”, como referiu.
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