REGIÕES VITIÍCOLAS: ESPANHA

A área vitícola espanhola é a maior a nível mundial, ocupando cerca de 1,22 milhões de hectares. De acordo com dados do OIV, em 2008 produziu 36,24 milhões de litros, tendo exportado nesse ano 16,9 milhões de litros, ficando as importações reduzidas a 607 mil litros O consumo per capita cifra-se nos 23,75 l/ano.

À semelhança de outros países europeus, foram os romanos os responsáveis pela produção de vinho em grande escala, embora haja vestígios relacionados com o vinho ainda antes do tempo do império romano. É o caso dos fenícios que controlando o país, no século III a.c. comercializavam os vinhos espanhóis, especialmente os doces, por todos países mediterrânicos.

Foi na sequência do Tratado de Tordesilhas que a produção e comercialização de vinhos espanhóis foram substancialmente incrementadas, graças à forte actividade colonizadora, essencialmente na América do Sul.

Por outro lado, sendo um país em que o efeito devastador da filoxera não foi tão dramático, houve considerável investimento francês no sector vitivinícola, nomeadamente na região de Rioja. Como resultado, verificou-se uma modernização tecnológica e introdução de novas castas.

Espanha classifica os seus vinhos em três níveis de qualidade:

Vino de mesa - Produzidos em qualquer região do país, e que não se enquadram na categoria de Denominação de Origem (D.O.)

Vino de la Tierra – São um pouco mais diferenciados, produzidos em qualquer região vitícola mas que não obedecem aos parâmetros necessários para poderem usar a categoria D.O. Equivalem aos vinhos regionais portugueses

Vino de Denominación de Origen (D.O.) - Vinho de qualidade, produzido em região delimitada e sujeito a regras regulamentadoras da denominação de origem.

Uma outra classificação, baseia-se na idade do vinho, mas tendo sempre subjacente que são aptos a utilizar a denominação de origem:

Vino joven ou Vino Sin Crianza ou Vino del Año - Vinho jovem, um pouco envelhecido, mas não o suficiente para ser considerado "crianza".

Vino de Crianza - Vinho (tinto, branco ou rosé) de melhor qualidade, envelhecido pelo tempo mínimo de 2 anos, dos quais os tintos estagiam pelo menos 12 meses em madeira e 6 meses para os brancos e rosés.

Vino Reserva - Vinhos de qualidade superior. Os tintos devem ser envelhecidos pelo tempo mínimo de 3 anos, dos quais, pelo menos 1, em madeira.

Vino Gran Reserva - Vinho de qualidade extra. Os tintos devem envelhecer no mínimo durante de 5 anos, dos quais pelo menos 2 anos em madeira. Os vinhos brancos e rosés podem envelhecer apenas 4 anos, dos quais 6 meses em madeira.

São sessenta e sete as regiões vitícolas espanholas com denominação de origem (D.O.):

Rías Baixas ( Rías Bajas); 2. Ribeiro; 3. Ribeira Sacra; 4. Monterrei; 5. Valdeorras; 6. Bierzo; 7. Tierra de León; 8. Cigales; 9. Arribes; 10. Toro; 11. Tierra del Vino de Zamora; 12. Rueda; 13. Ribera del Duero; 14. Arlanza: 15. Rioja; 16. Txacoli de Álava - Arabako Txakolina (Chacolí de Álava); 17. Txakoli de Bizkaia - Bizkaiko Txakolina (Chacolí de Vizcaya). 18. Txakoli de Getaria - Getariako Txakolina (Chacolí de Guetaria); 19. Navarra; 20. Campo de Borja; 21. Cariñena; 22. Calatayud; 23. Somontano; 24. Costers del Segre; 25. Terra Alta; 26. Tarragona: 27. Montsant: 28. Priorat (Priorato); 29. Conca de Barberà; 30. Penedès; 31. Pla de Bages; 32. Alella; 33. Empordà (Ampurdán); 34. Binissalem; 35. Pla i Llevant: 36. Valencia; 37. Utiel-Requena; 38. Alicante: 39. Yecla; 40. Bullas; 41. Jumilla; 42. Almansa; 43. Manchuela; 44. Ribera del Júcar; 45. Uclés; 46. Mondéjar; 47. La Mancha; 48. Valdepeñas; 49. Méntrida; 50. Vinos de Madrid; 51. Ribera del Guadiana; 52. Condado de Huelva; 53. Manzanilla-Sanlúcar de Barrameda; 54. Jerez-Xérès-Sherry; 55. Málaga e Sierras de Málaga. 56. Montilla-Moriles; 57. Cava (múltiplos lugares não representados no mapa); 58. La Palma; 59. El Hierro; 60. La Gomera; 61. Abona; 62. Tacoronte-Acentejo; 63. Valle de Güímar; 64. Ycoden-Daute-Isora; 65. Valle de La Orotava; 66. Gran Canaria; 67. Lanzarote.
Deste universo, falaremos só das mais importantes:

La Mancha – Ocupando uma área de 170 mil hectares, é a mais extensa região vitícola do mundo. Situa-se ao sul de Madrid, entre as cidades de Toledo e Albacete. Produz vinhos ligeiros e frescos. A força da tradição vitivinícola, reflectida nas condições naturais, favorece a viticultura. Embora o rendimento unitário não seja muito grande, a qualidade dos vinhos é elevada. Antigamente, esta região tinha uma imagem produtora de grandes volumes, embora sem muita qualidade. Actualmente, fruto das inovações tecnológicas, os vinhos conquistaram grande prestígio no mundo inteiro. As castas brancas mais utilizadas são a Airén, Mabaceo, Pardillo e Verdoncho. Entre as castas tintas encontra-se o Cabernet Sauvignon, Cencíbel, Garnacha e Moravia.

Penedés - Situada entre Barcelona e Tarragona, forma, juntamente com Rioja, Ribera del Duero, Jeréz e Priorat, o grupo de elite das regiões vitícolas espanholas. No século XIX foi uma das primeiras regiões a produzir vinhos em grande quantidade, sendo a França, devastada pela filoxera, o seu principal mercado. A região divide-se em três sub-regiões bem distintas. A primeira, o Baixo Penedés tem uma altitude média 250m e tem elevadas temperaturas diárias. Tradicionalmente eram plantadas as castas Moscatel e Moscatel de Alexandria, utilizadas na produção de fortificados. (...)

Cava - Região produtora dos melhores vinhos espumantes espanhóis. Como engloba várias áreas no nordeste do país, desde Rioja, a oeste de Gerona, ao sul de Valencia, não está representada no mapa. No entanto, 99% da produção é oriunda da região da Catalunha, no município de San Sadurní d'Anoia. Os principais meios de produção são o método clássico (segunda fermentação em garrafa) e, secundariamente, o charmat (2ª fermentação em cubas inox). Cava significa “adega subterrânea”, aonde ocorre a segunda fermentação e o estágio. (...) O Priorato é um dos raríssimos vinhos de primeira classe do mundo que é produzido a partir das uvas Garnacha e Cariñena. A idade das videiras e a concomitante baixa produção (média 0,3 toneladas por hectare), sem sombra de dúvida contribuem para a qualidade do vinho que facilmente alcança 18% álcool.

Ribera del Duero - Situada num planalto ao norte de Madrid, em Castilla-Leon, disputa actualmente a hegemonia dos vinhos tintos espanhóis com a região da Rioja. A região estende-se através das margens do rio Douro, a leste da cidade de Valladolid. Só em 1982 é que foi reconhecida como D.O. A principal casta da região é a Tempranillo (também chamada Tinto Fino ou Tinto del País) que se adaptou bem à altitude (700 a 800 m) e às elevadas amplitudes térmicas diárias. Os vinhos tintos têm uma complexidade aromática aonde predominam os frutos maduros, são encorpados, de cor intensa, elevada concentração de taninos e com moderada influência de madeira. A casta Garnacha é utilizada para a produção de rosé.

Jerez-Xérès-Sherry – É uma das mais famosas regiões vitícolas de Espanha. Localiza-se ao sul de Sevilla, próxima da costa atlântica, entre as cidades de Jerez de la Frontera, San Lúcar de Barrameda e El Puerto de Santa María. O Jerez, tal como o vinho do Porto, é um vinho fortificado, com a diferença de que a aguardente é adicionada após a fermentação alcoólica, originado assim um vinho seco. O Jerez resulta de vinhos de várias colheitas e é envelhecido pelo sistema Solera, onde são utilizados cascos de carvalho, denominados botas, com capacidade média de 600 litros.
(...)
Existem oito categorias principais de Jerez: Fino, Manzanilla, Amontillado, Oloroso, Palo Cortado, Pale Cream, Pedro Ximenez e Cream. Todas estas categorias precisam de envelhecer pelo menos durante três anos. Os Amontillados são envelhecidos durante cinco anos, no mínimo e os Olorosos sete anos.

As castas predominantes são a Palomino e Pedro Ximenez.

Rui Ramos
Eng. Enólogo e Agrícola

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