A verdadeira história das SCUTs

. Desde logo, convém lembrar que muitas destas auto-estradas (SCUTs) foram construídas, em parte, com fundos comunitários o que entra em contradição com o princípio uso público/privado.

Alguns que berram: "paguem e não bufem" porque têm de pagar a portagem da ponte 25 de Abril ou outras nos arredores de Lisboa ou aqueles que têm de pagar as portagens, lembro-lhes que nem todas as auto-estradas apresentam a mesma tipologia. Obviamente, não se pode comparar uma auto-estrada da Brisa como a A1 ou a A3 por dar algum exemplo, feitas inteiramente com capital privado do que uma SCUT em que entra o capital público e fundos públicos do Estado e da UE. Podem parecer a mesma coisa mas não é.

No primeiro caso, a portagem faz parte da lógica de uma empresa que quer obter os seus benefícios vindos da exploração da via construída. No segundo, trata-se de um serviço público que nós, cidadãos e contribuintes, pagamos com os nossos impostos. Introduzir portagens em regiões do interior não só significa penalizá-las, mas também devotá-las à sua extinção. Porque o utilizador que anda pela auto-estrada paga duas vezes: pelo IUC e pela portagem que paga que não é nem de longe, mais barata. Antes pelo contrário, muitas vezes resulta mais cara.

Negocie-se, nacionalize-se (apesar das más lembranças para alguns desta palavra), faça-se de modo equilibrado e que não penalize o turismo estrangeiro. Na minha conta de Twitter e do Facebook já postei pelo menos três ou quatro notícias referidas à impossibilidade de obterem os seus cartões de pagamento os viajantes espanhóis e de outras partes na fronteira de Vilar Formoso por a máquina dispensadora avariar. Umas boas-vindas assim fazem de nós um país terceiro-mundista e não é bem o nosso melhor cartão de apresentação.

No final sofrem transportadoras,empresas de exportação, as populações locais e o turismo. Qual o benefício das portagens numas vias que cada vez estarão mais vazias, quer pela impossibilidade económica de usar estas auto-estradas, quer pela quebra continuada da actividade económica? Será que compensa penalizar populações que talvez tenham de encerrar empresas e serviços atirando mais pessoas ao desemprego, com os custos acrescidos e inerentes do subsídio de desemprego e a quebra das receitas em termos de impostos às empresas em troca de umas portagens que só beneficiam as concessionárias e nem sequer cobrem a totalidade das alegadas despesas como parece ter-se demonstrado no caso das portagens no Porto e arredores.

E mesmo para nós, portugueses, fica mais caro visitar o nosso país. No início do mês fiz uma viagem a Chaves de Elvas. Não paguei nada. Hoje pagaria 64 EUR I/V apenas em portagens. Se decidir ir por Espanha, faço mais 40 km. mas a parte da viagem em vias normais é a mesma que faria em Portugal em quilómetros, sendo as restantes auto-estradas gratuitas. Quem sai a ganhar? Se eu tomar um café ou parar ao almoço? Ou se comprar um produto típico da região? Ou se fazer uma breve paragem para visitar um monumento ou uma paisagem natural? A resposta é tão óbvia que não merece mais palavras.

E isso sem falar dos encerramentos de linhas de ferrovias como a Linha de Leste. De repente, a região Alto Alentejo fica sem serviços de comboio nem para Madrid nem para Badajoz. Também fica sem possibilidades de poupar bastantes horas caso um utente queira ir para o Porto trocando de comboio no Entroncamento. Tem de fazê-lo necessariamente numa rodoviária passando por Lisboa ou em viatura particular.

É claro que este governo só se preocupa com números que apresentar à «troika» e está-se nas tintas para nós. Só que as consequências no futuro podem ser devastadoras. E como não há regionalização, a questão piora ainda mais. Porque nas regiões espanholas subsidiam-se linhas deficitárias consideradas importantes para o desenvolvimento da região. Mesmo que sejam quatro gatos pingados, muitas vezes esses comboios e tudo o que têm para se deslocarem à capital da província e irem no hospital ou tratar documentos.

Seja como for, não precisamos de políticos medíocres nem de tecnocratas, precisamos de pessoas com uma visão integral do país e que tenham o poder e sejam capazes de implementar políticas nesse sentido. Infelizmente não há...

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Comentários

Paulo Rocha disse…
Muito bem...!