Reforma Administrativa ou o Triunfo dos Porcos

Reforma dos fracos
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A Europa está à beira da implosão, a banca tem prejuízos históricos, o desemprego bate recordes, o endividamento público atinge o 3º lugar do ranking a seguir às gloriosas Grécia e Itália e a vitória estatística do défice de 2011 é construída sobre os despojos de empresas a fechar e dos novos pobres da classe média em proletarização rápida.

O Memorando da troika é uma receita desajustada à nova recessão europeia e uma tábua de mandamentos sagrados sujeita a revisionismo trimestral ao sabor das mutantes prioridades do Governo e das organizações internacionais perante a inesperada resistência da realidade aos poderes mágicos da cura de austeridade.

A maioria usa o Memorando como arma de arremesso para condicionar a crítica, seja do PS à procura da velocidade de cruzeiro, dos “cavaquistas anónimos” ou da sociedade civil à beira do desespero.

O ritmo trimestral de reescrita do vade-mécum governativo leva ao abandono do inconveniente e à chantagem literal sempre que útil. Já caiu a baixa da TSU, esqueceu-se a redução do financiamento dos colégios privados, contorna-se o incómodo corporativo da agenda para a Justiça e diz-se que a recapitalização da banca tem a garantia de um Estado como acionista passivo, ao contrário das nacionalizações bancárias no Reino Unido, que não deixou de ser a maior praça financeira europeia.

Mas uma grande reforma não pode ser adiada para glória do inefável Relvas guru da propaganda e das ciências ocultas da maioria. Apesar de não existir pinga de ideia sobre modelo territorial e abjurar a regionalização, de confessar que em nada contribui para matar o défice e que a racionalidade é uma mitologia estatística, deu entrada na Assembleia da República a grande reforma das freguesias.

Serve para distrair a malta, gerar guerras locais, vistas com bonomia desdenhosa pelos iluminados, e dar ares de coragem política. Qual nova versão do Triunfo dos Porcos, a máxima é três freguesias é bom, quatro ou mais mau. Nas cidades haircut de risca ao meio, no campo reforma a três quartos. A verdadeira reforma dos fracos para fugir a desafios e enganar pategos.

por Eduardo Cabrita
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