Portugal é de facto uma Cidade-Estado !


Vivemos na última década uma deriva centralista com efeitos muito profundos e concretos: a imposição de uma forma furtiva, isto é, não assumida e sem qualquer debate, de um planeamento dos investimentos, dos equipamentos e dos serviços crescentemente concentrados na capital e na sua área próxima.
Tudo isto foi compensado, aqui e ali, por meras declarações de caráter simbólico, o que foi visível na chamada política de racionalização de serviços em que, eliminando unidades de pequena dimensão, menos rentáveis, se prejudicou sistematicamente as zonas que mais deles necessitam.
À escala nacional, os grandes meios de transporte, os grandes equipamentos e as grandes acessibilidades internacionais tornam a esmagadora maioria do resto do país excessivamente dependente da capital. Entretanto, os centros de decisão, nos partidos, concentram-se também em Lisboa.
Até a cidade do Porto perde qualquer poder de influência, quanto mais a cidade de Coimbra. Lembro que, lá muito para trás no tempo, Coimbra sempre foi um alfobre de governantes (primeiros-ministros, ministros, líderes partidários…).
Hoje, porém, lança foguetes quando, por acaso, lhe calha um secretário de Estado… Seria, aliás, divertido ver como reagiria a opinião pública de há 20 anos se se lhe deparasse um governo em que todos os ministros são lisboetas… E isso acontece com frequência.
As consequências são, por um lado, a ausência quase total de decisões que mantenham uma ocupação multipolar do território e, por outro lado, a incapacidade de fazer ouvir um simples protesto.
Aliás, uma das características e ao mesmo tempo um dos motores desta deriva centralista é a concentração do espaço mediático, em particular o televisivo, numa só cidade.
De tal forma que qualquer estrangeiro que desconheça o país e o procure conhecer apenas pela televisão (o que seria até natural) iria daqui convencido que tinha visitado uma Cidade-Estado. Ora, no plano dos factos, é o que hoje já somos.

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