Retrato de um País desequilibrado


Notas prévias:

  • Nos dados apresentados, o somatório dos dados regionais é inferior ao total nacional – entre um mínimo de 2,4 (2006) e um máximo de 3,1 (2008) mil milhões de saldo comercial – por desconhecimento da região de origem / destino de algumas mercadorias (vd. site do ICEP, “Estatísticas – Comércio Internacional”);
     
  • Às exportações e importações de cada Região, deduzi os valores da Secção V da Nomenclatura Combinada (Produtos Minerais), em que a “parte de leão” é relativa a combustíveis. Porque estes são consumidos por todo o País, independentemente da Região que os importa ou refina, mas fundamentalmente porque, a partir de 2007, as respectivas transacções internacionais passaram a ser integralmente registadas na Região de Lisboa, o que lhe empolava artificialmente as exportações, as importações e o défice.

    Isto penalizará porém a Região do Alentejo (nas restantes as discrepâncias são marginais), que fica assim amputada das exportações dos mármores de Borba, para além dos combustíveis refinados, que saem maioritariamente da refinaria de Sines. Incluindo os produtos minerais, o Alentejo tem, a partir de 2007, uma taxa de cobertura ligeiramente acima dos 100%. 


As exportações têm evoluído bem, mas há ainda um longo caminho a percorrer. Só em 2011 (de que ainda não há dados em base regional) é que a taxa de cobertura global teve um crescimento sensível – 9 p.p. para 73,5% ou quase 13 p.p. para 83% excluindo os combustíveis.

Mas olhando para os gráficos, salta à vista o escandaloso desequilíbrio numa óptica regional: 2 regiões, o Norte e o Centro, predominantemente exportadoras e a gerarem excedentes comerciais consistentes não obstante as sucessivas falências, contrastando com a região de Lisboa, essencialmente consumidora e responsável pela quase totalidade dos défices comerciais ao longo dos anos, ostentando a pior taxa de cobertura, estabilizada miseravelmente à volta dos 35%.

Mesmo que o excedente nos serviços lhe fosse totalmente imputado, ficaria, ainda assim, bem longe do equilíbrio. Daí que seja premente uma reconversão económica da Região de Lisboa, exigindo uma enorme transferência de recursos para o sector transaccionável. E isto tem de passar necessariamente pela redução de serviços do Estado, o principal agente económico no sector não transaccionável.

A contestação à política de austeridade tem também muito a ver com a resistência de quem até agora tem sido beneficiado, que terá forçosamente de mudar de vida e não quer, naturalmente, sair da sua “zona de conforto”.

por LR, publicada no Blasfémias
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