Elvas: Autarca reconhece aumento de cuidados a portugueses em Espanha
O autarca de Elvas lembrou hoje que "raro é o dia" em que um habitante local "não pisa território espanhol", alertando o Governo para o possível aumento, em 2013, dos cuidados de saúde prestados a portugueses, em Badajoz.
Segundo o Presidente da Câmara Municipal de Elvas, em 2013, "as regras europeias alteram profundamente a questão do uso" do Cartão de Saúde Europeu, estabelecendo que um país "pode dar assistência", mas "tem o direito de receber [a compensação financeira] do país de origem do doente".
"E, aí, as coisas em termos de fronteira vão-se complicar para Portugal", frisou Rondão Almeida.
O autarca de Elvas falava à agência Lusa sobre o relatório do Tribunal de Contas espanhol que aponta o "uso abusivo" que cidadãos portugueses e de outros países europeus fazem da sua assistência médica, através do Cartão de Saúde Europeu.
O tribunal adverte que há um "importante" número de portugueses que vai "deliberadamente" a Espanha, sobretudo em Pontevedra (Galiza) e Badajoz (Estremadura), para receber cuidados médicos, o que "desvirtua o objetivo do Cartão de Saúde Europeu, que só deve ser usado conjunturalmente".
Rondão Almeida lembrou que, na zona de Elvas, "é raro o dia em que qualquer" habitante daquele concelho alentejano "não pisa território espanhol", ou vice-versa.
Essa proximidade e as valências de Saúde existentes do lado português, conjugadas com a futura alteração das normas do Cartão de Saúde Europeu, requerem a "atenção" do ministro da Saúde, Paulo Macedo, frisou o autarca.
"Chamo a atenção do ministro da Saúde para ter muito cuidado com o Hospital de Santa Luzia, em Elvas, porque, se lhe for retirando valências, é muito natural que esta situação se venha a multiplicar, a triplicar ou até a atingir números nunca esperados", avisou.
A partir do próximo ano, quando for "país de origem do doente a suportar as despesas", continuou o presidente de câmara socialista, "possivelmente ficará mais barato a Portugal dar as condições aos nossos hospitais", evitando a canalização "dos nossos doentes para hospitais espanhóis".
O Tribunal de Contas espanhol "tem toda a razão", porque Espanha "deve suportar as despesas do seu país e não do país vizinho", reconheceu o autarca, atribuindo a mesma razão aos utentes portugueses do cartão europeu, que têm "os seus direitos e as suas razões" para recorrerem ao outro lado da fronteira.
"Porque é que um utente, por exemplo da cidade de Elvas, recorre ao hospital de Badajoz? Possivelmente, porque vê que em Badajoz são oferecidos tratamentos em determinadas áreas que não existem do lado de cá", argumentou.
Para "evitar" a "sangria que se pode vir a dar desta parte do Alentejo para os hospitais espanhóis", a partir do próximo ano, o autarca reivindicou do Governo português o "reforço" dos hospitais de Elvas e de Portalegre e o avanço da construção do novo hospital central em Évora.
Nota do Editor: Era bom que os que defendem o centralismo para "preservar a unidade nacional" prestassem atenção a estas notícias.
O centralismo, ao despojar os territórios fronteiriços, nomeadamente os do Interior, de serviços públicos, está a fazer com que estas regiões cada vez mais se virem para Espanha.
Comentários
Cumprts Nortenhos
Viva o Norte
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Um abraco regionalista dalgodrense.
Por outro lado há quem tenha um plano de saúde privado que lhe habilite a fazer consultas é até operações cirúrgicas em clínicas privadas de Badajoz como a Clideba. E não devemos esquecer outra coisa: as consultas nos centros de saúde públicos são gratuitas. Cá uma simples consulta ao médico de família são 5 EUR. Já para não falar dos preços dos medicamentos. Nalguns casos é mais barato comprar o medicamento numa farmácia de Badajoz sem comparticipação do que o mesmo medicamento comparticipado cá em Portugal. Um exemplo prático: uns comprimidos de magnésio que costumo tomar quando faço exercício físico ou faço esforços adicionais custam-me cá entre 11 e 15 EUR. Em Badajoz encontro comprimidos efervescentes que posso adicionar à agua que tomo no ginásio por 4,50 EUR. Já não é a gasolina, é que a saúde é caríssima em Portugal.
Não admira que tenhamos inúmeros casos de bebés nascidos em ambulâncias, idosos que não podem seguir tratamentos contra o cancro e outras doenças porque têm de pagar a ambulância, que a saúde dental dos portugueses seja das piores da UE, etc.
Hoje há polémica em Espanha porque querem diminuir a comparticipação dos medicamentos por níveis de rendimentos familiares, mas mesmo assim, os medicamentos continuarão a ser mais baratos. O Estado deveria pensar que para poupar despesas não basta com a receita fácil: os encerramentos, mas sim racionalizar as estruturas administrativas e simplificar a burocracia. Só com isso poupar-se-iam milhões sem apenas perda de valências para as populações.
Luís Seixas.