Centro: Falta consciência de região

Entrevista - Norberto Pires – Presidente da CCDRC
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Há pouco mais de um mês na presidência da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), Norberto Pires é apologista da ideia de regionalização. Considera as pessoas a maior riqueza da região centro - ainda assim, admite haver dificuldades na fixação dos recursos humanos. 


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Agora que está na presidência da CCDRC, quais são os maiores desafios e lacunas a que acha urgente responder?
O primeiro desafio é isto funcionar como uma região. Neste momento, a região centro são associações de terras e não há uma consciência regional, não há o sentimento de pertença comum. A região centro para ser alguma mais-valia tem que ser a soma de 100 municípios à ação em conjunto. Caso contrário para que funciona? Tem que ser algo para além das partes. 



Depois a questão de perceber que ao trabalhar dessa forma, há opções a fazer que têm como objetivo reforçar as competências que temos e através delas diminuir as diferenças que existem. 


É como se fossemos uma família muito grande em que uns elementos têm que ajudar aqueles que têm mais dificuldades, de maneira a que a capacidade média seja distribuída. Isso só vai acontecer se tivermos a consciência de região, por isso é que eu dei o exemplo de família. Tem que haver aqui uma entreajuda maior para que essas assimetrias desapareçam.

Haveria vantagens num processo de regionalização?
Sim, nessa perspetiva. Em que essa iniciativa de distribuição de poderes e competências façam com que ela funcione de forma mais coesa. Caso contrário não vejo grande interesse.

Quais sãos os equilíbrios e desequilíbrios da região centro?
Há um desequilíbrio grande entre o interior e o litoral que teve a ver com a deslocalização de pessoas. Não teve que ver com diferenças territoriais, nem diferenças culturais que não são significativas. A grande diferença está no facto de se terem deslocalizado pessoas. 



Portugal tem falhado na capacidade de fixar pessoas nos vários pontos da região e as pessoas é que fazem a diferença. 


Desde o 25 de abril, tivemos à disposição um conjunto grande de recursos e foi na política de fixação de pessoas e na atração de pessoas que falhamos redondamente. Temos que fazer também com que as mais-valias do litoral passem para o interior. 


Esse esforço tem que ser feito para que se esbatam as diferenças, para que Portugal não incline, parece que está sempre inclinado para o mar. É preciso que as pessoas equilibrem a sua vida no interior.

Que responsabilidades tiveram as políticas governamentais nesse estigma?
Foi uma menor preocupação. Preocupam-se muito em renovar o território, na qualidade do próprio território, mas menos na oferta de oportunidade em que as pessoas vissem que tinham ali futuro, sobretudo os mais jovens. 



Na década de 70, Portugal tornou-se um país aberto ao mundo e portanto as pessoas e os meios de informação estavam disponíveis. As pessoas não se preocuparam em permanecer no seu local. As políticas falharam foi nisso. E acho que é nessa perspetiva que se deve investir agora, menos em obra física e mais em coisas imateriais, como a atividade cultural. Muitas coisas têm que ser feitas sabendo que não são economicamente rentáveis, por isso é que são públicas, têm objetivos para além do valor económico.


E depois falharam muito nos sistemas de transportes. Por exemplo, numa região em que é mais difícil chegar do ponto A ao ponto B do que à capital, porque há vias mais rápidas… Depois as pessoas não se podem queixar de as coisas estarem centralizadas, porque se calhar até é mais fácil de lá chegar. E nunca se apostou muito num sistema de transporte interno, dentro da região.
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por Acabra .Net

Comentários

O "centro" continua eternamente à espera que uma identidade regional apareça do nada, ou se crie a partir dos gabinetes dos tecnocratas de Coimbra.

Não vai acontecer. Não é assim que as coisas funcionam.

Uma identidade regional não se cria à força- ou existe ou não existe.

E num espaço que coloca no mesmo saco locais tão diferentes a todo os níveis como Esmoriz e Vila Velha de Ródão, ou Barca d'Alva e a Marinha Grande, como querem que surja uma identificação em torno do suposto centro ou "Beiras"(até o facto de estar no plural nos diz que é uma junção de coisas diferentes...)?

A solução é apenas uma: separar o que é diferente e criar duas regiões: Beira Litoral e Beira Interior.

Cumprimentos,