Aos 90 anos Gonçalo
Ribeiro Telles continua activo e atento aos problemas no nosso País, e muito
preocupado com a falta de debate sobre o que verdadeiramente importa.
Extrato da
entrevista na sede da Real Associação de Lisboa de que é activo sócio.
A reforma administrativa proposta pela troika quer reduzir o número de municípios
portugueses e agregar juntas de freguesias. Que pensa disso?
Cortes geométricos feitos em função da população não têm a
mínima sustentação, e essa reforma administrativa de nada valerá se não for ao
cerne do problema. É que tudo isso tem de partir de uma verdade, que é a
das nossas regiões naturais e históricas. A História conta muito…
Foi o que propusemos em 1982 [Regionalização: uma proposta do
Partido Popular Monárquico, 17 pp.]: reunir os concelhos actuais em
50 regiões naturais, organizadas em 15 confederações de municípios no Portugal
continental.
Regiões naturais:
Alto Minho, Lima, Cávado, Ave, Sousa, Alto Tâmega, Terra Fria,
Terra Quente, Miranda, Baixo Tâmega, Panoias, Douro Sul, Alto Douro, Baixo
Vouga, Gândaras, Bairrada, Baixo Mondego, Leiria, Viseu, Dão, Arganil, Serra,
Guarda, Pinhal da Beira, Alto Mondego, Castelo Branco, Extremadura, Santarém,
Tomar, Borda d'Água Ribatejana, Abrantes, Sorraia, Portalegre, Avis, Caia,
Évora, Estremoz, Alentejo litoral, Portel, Beja, Guadiana, Algarve, Termo de
Lisboa, Outra Banda, Baixo Sado, Terras de Santa Maria, Gaia, Porto-cidade,
Maia, Vila do Conde e Póvoa do Varzim.
E como confederações, ou regiões administrativas:
Minho, Trás-os-Montes, Douro, Litoral atlântico, Beira Alta,
Beira Interior, Beira Baixa, Extremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Alentejo
central, Baixo Alentejo, Algarve, área metropolitana de Lisboa e área
metropolitana do Porto.
As regiões naturais estão estabelecidas em função do povoamento,
da defesa dos solos agrícolas e das reservas naturais. São definidas por
condicionalismos mesológicos e biológicos. São elas que devem comandar os
municípios, para que haja independência na rede de aldeias e lugares, e
abastecimento de proximidade de frescos, carne e leite.
As bacias hidrográficas são, digamos assim, a cosedura natural
dos municípios. As confederações facilitam os transportes, a administração,
etc.
O agrupamento das juntas de freguesias rurais é já um problema
de povoamento, porque as juntas de freguesia dependem das aldeias, que estão a
morrer pelo abandono da agricultura.
A administração pública deveria estruturar-se de modo a que
fosse possível articular o ordenamento biofísico e demográfico com o
planeamento económico e social e corresponder à realidade física e histórica
das regiões naturais.
(...)
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