O
fim dos Governos Civis é criticado por autarcas, empresários e agentes
políticos regionais que se queixam que "Lisboa ficou mais longe" e é
cada vez mais difícil obter uma resposta a problemas locais.
O
vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e
autarca de Melgaço (PS), Rui Solheiro considera que o fim dos governos civis, anunciado
há um ano, representou uma "decisão meramente populista, sem qualquer
vantagem".
O
presidente socialista da Câmara de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira, considera
que "foi um erro extinguir os governos civis" e uma decisão que
"deixou as populações mais desprotegidas" até porque "Lisboa
fica longe e, nesse sentido, os organismos do Estado ficam um bocado em roda
livre".
Opinião
semelhante tem o social-democrata Francisco Araújo, de Arcos de Valdevez, que
aponta também problemas na Proteção Civil, onde "deixou de ser existir uma
coordenação" que antes estava a cargo do governador civil: "Mas no geral
não foi uma má medida, pelo contrário. O problema é que tarda o resto, a
reforma da administração pública, em termos de reorganização do próprio território
e da regionalização".
Às
críticas dos autarcas, somam-se as queixas dos sindicatos. O coordenador da
União dos Sindicatos do Algarve (USAL), António Goulart, considera que a
extinção das instituições não veio resolver nenhum problema mas antes pelo
contrário: "Há um vazio de poder na região" até porque, sem
regionalização, o Governo Civil desempenhava um papel "determinante".
Também
os empresários lamentam o fim da figura de um governador civil como um elemento
"útil" na ligação ao poder central, que criou "maior
dificuldade" no acesso ao diálogo com o Governo, refere o presidente do
Núcleo Empresarial da Região de Portalegre (NERPOR), Jorge Pais.
"Em
regiões como Portalegre, uma figura, um representante de proximidade do poder
político, seria útil e teria a sua importância. Em muitos casos, seria até um
sinal do reconhecimento do exercício de alguma cidadania", disse o
empresário, salientando que o governador civil constitui uma imagem que
"marcava a configuração" de uma capital de distrito, que ficou
"fortemente abalada" com o seu desaparecimento.
Mais
a sul essa ausência também é sentida, afirmou o presidente do Turismo do
Algarve, António Pina, que acredita que o Algarve nada ganhou com o fim dos
governos civis, uma medida que não "salvou a pátria" do ponto de
vista do erário público e que apenas veio dar vitória ao "centralismo".
"A
sensação que eu tenho é que a ligação que havia entre uma pessoa que
representava o Governo na região, mas que também representava a região junto do
Governo - e é este último aspeto que é bom ter em conta -, se perdeu",
disse.
Para
o também penúltimo governador civil de Faro, as pessoas não sabiam bem qual era
o papel dos governos civis e o Governo aproveitou esse facto para acabar com
aqueles organismos, cuja extinção o PSD já defendia "mesmo antes de chegar
ao Governo".
Aires
Ferreira, o mais antigo presidente de Câmara do distrito de Bragança, reclama
agora uma solução para o futuro, Já que "as populações e os próprios
autarcas perderam um interface com o Governo" porque "o governador
civil tinha aqui uma função que permitia recorrer (a ele) para atuar ou fazer
chegar ao Terreiro do Paço" as reivindicações da região.
As
"populações e as autarquias deixaram de ter um interlocutor, já que o
governador civil era o representante do Governo no distrito mas simultaneamente
o porta-voz da região", sustenta Rui Solheiro, que considera a medida
"demagógica", com "efeitos negativos" para o território.
"O País não ganhou nada com isto. Pelo contrário, porque não houve nenhuma
medida compensatória, de descentralização, para as populações", sustentou.
O
processo de extinção dos governos civis foi formalizado a 08 de Setembro de
2011 e até Maio deste ano mais de 280 funcionários dos quadros dos governos
civis foram deslocados para trabalhos administrativos nas forças de segurança.
A
maioria dos imóveis libertados alberga os comandos distritais da GNR e da PSP,
o SEF e a ANPC.
O
Governo justificou a decisão com a necessidade de poupar anualmente cerca de
3,5 milhões de euros diretos, além de 40 a 60 milhões indiretos, nos próximos
anos.
Fonte: CM
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