Capital de quê?
Saberá o leitor que não me revejo na ideia da fusão entre Porto e Gaia. Diferente seria se essa fusão incluísse Matosinhos, Maia, Valongo e Gondomar, uma vez que teríamos, nesse caso, uma cidade formada pelas cidades que constituem o núcleo do Grande Porto o que tornaria mais fácil gerar sinergias e gerir as complementaridades, definindo uma estratégia metropolitana.
Outra alternativa, claro está, passa por reforçar os poderes da Junta
Metropolitana num território mais alargado, transferindo para essa autarquia
supramunicipal um conjunto de competências que hoje pertencem ao Estado
Central, e ainda algumas outras que se encontram dispersas pelas várias
cidades.
A ser assim, manter-se-iam as cidades, tais como as conhecemos, com as suas
identidades e com as suas características próprias, mas haveria um poder
supramunicipal que poderia intervir em áreas fundamentais, como é o caso da
mobilidade e dos transportes, do ambiente, da educação e da saúde.
Naturalmente, e para que essa autarquia supramunicipal possa ter uma voz e
capacidade de fazer exigências, o seu presidente deverá ser escolhido por
sufrágio direto, integrando os presidentes de Câmara das cidades que compõem a
Área Metropolitana um senado metropolitano, fazendo-se assim a articulação de
competências que competem aos dois níveis de poder.
A crítica, aliás razoável, de que esse processo pode impedir a futura
regionalização, não me parece fundamentada. Bem se sabe que, havendo ou não
regionalização, haverá sempre associações de municípios no seu seio que podem e
devem funcionar de forma diferenciada. Menos razoável é a crítica de que esse
modelo não existe na Europa, porque ignora a realidade de muitas e muitas
cidades europeias.
Mas, voltando à ideia tão em voga da fusão de Porto e Gaia, é importante igualmente
recuperar os argumentos dos seus defensores. Dizem-nos eles que, desta forma,
estaremos a formar a maior cidade portuguesa e, simultaneamente, a dar corpo à
futura capital do Noroeste Peninsular.
Quanto a este último conceito, pode ter impacto na vontade das populações,
mas é uma mera ilusão. Não conheço nenhum galego que alguma vez tenha admitido
esse cenário. Por outro lado, a ideia de capitalidade do Porto é, essa sim, um
enorme obstáculo à regionalização. A última coisa que os portugueses querem é
uma segunda capital e como tantas vezes tenho defendido, a estratégia para o
Porto deve passar precisamente por não ser, nem querer ser, capital.
O objetivo a defender deve ser o de alinhar com as outras cidades,
reclamando a Lisboa uma justa repartição dos recursos e dos poderes que hoje se
concentram, de uma forma aliás cada vez mais despudorada, na capital.
Outro conceito demagógico passa pela intenção de querer ser a maior cidade
de Portugal, na medida em que o Porto só o será se Lisboa e as cidades
limítrofes não optarem, também elas, pela fusão, além de que a mera dimensão
populacional não garante qualidade de vida, nem torna a cidade mais
competitiva.
Resta, é claro, a questão sempre sensível do nome a dar à cidade assim
formada, com o risco de se alienar o peso de uma marca que, nos últimos anos,
tem vindo a ganhar força no estrangeiro, e o problema do equilíbrio justo entre
as contas das duas autarquias, que não deixará de pesar na decisão dos
portuenses.
Ainda assim, se porventura for esse o caminho, não se entende por que razão
se propõe que o assunto seja adiado para daqui a quatro ou a seis anos. Diz o
memorando assinado com a troika que é necessário reduzir o número de
autarquias. A questão das freguesias, além de polémica, tem pouco impacto, como
se sabe. Por isso, deveriam os ideólogos deste projeto defender um referendo
que antecedesse as eleições autárquicas do próximo ano. Ou será que não o
querem fazer porque, se esse cenário se viesse a concretizar, haveria uma
reviravolta profunda nas futuras candidaturas autárquicas, em função da atual
interpretação da lei que limita o número de mandatos?
.
Comentários
O Dr. Rui Moreira, não é dos que engana as tribos, por isso, no início, marca terreno: "Saberá o leitor que não me REVEJO na ideia de...."., ou seja, Saberão os plebeus do norte......
Ele faz lembrar alguns cônsules da Roma Antiga no dealbar da República para o Império, abrindo o caminho para o poder pessoal, divino até, para o centralismo. Não faz? Faz faz!
Vejamos então se faz ou não faz, quando propõe para o Porto, quiça para o Norte de Portugal e Galiza um Imperador, um César, um Augusto ("o que acrescenta").
Diz ele:
"Naturalmente, e para que essa autarquia supramunicipal possa ter uma voz e capacidade de fazer exigências, o seu presidente deverá ser escolhido por sufrágio direto, integrando os presidentes de Câmara das cidades que compõem a Área Metropolitana um senado metropolitano, fazendo-se assim a articulação de competências que competem aos dois níveis de poder." Sim, foi Rui Moreira que escreveu isto. Ora isto é de Cônsul, de Patrício do Norte.
Eleger um Imperador! Um imperador que trabalhará com os tribunos e senadores das tribos ao redor,em aliança com os Cavaleiros do nosso tempo. Ele propõe um Império a Norte! E deixa em aberto a sua divisão em dois: o do Porto e o de Gaia, tal como na Roma Antiga. Lá referencia um Senado, implícito fica um Consulado Patrício, mas não toca por hora em questões de sucessão, deixa para a vontade do primeiro Octávio César Augusto do Porto, Porto/Gaia ou Império do Norte - Augusto, "o que acrescenta".
Será Rui Moreira o Cícero português?!
O que não diriam Viriato e os Lusitanos, que, segundo dizem, inventaram a guerra de guerrilha para combater os exércitos romanos: os centralistas, os cônsules, os procônsules, os ditadores, os estupores, os imperadores. Só dez imperadores morreram na cama, quase todos foram degolados, estrangulados, envenenados. Que horror! O que estou a vislumbrar!
As questões de sucessão ficam para o primeiro "Augusto"; consta-se que um candidato a Imperador, LFMenezes, já tem descendente promissor na Grande Assembleia Patricial que funciona em Lisboa. Está a tirar o Tribucínio.
Termino assim: "Lusitânia não é Ibéria e Ibéria não é Lusitânia", "Portugal não é Ibéria e Ibéria não é Portugal". Portugal é o único País (Região) da Hispânia, que num processo longo e sanguinolento de "Regionalização", iniciado dois mil centos e tal anos atrás, conseguiu a independência. Ao lado temos a Espanha das nações, num processo que todos conhecem. Por isso Portugal é ANTIREGIONAL.
Digo eu!
Apesar de não me rever, minimamente, na ideologia intrínseca no seu texto, há que reconhecer mérito e mesmo alguma genialidade, à forma divertida com que faz a analogia com a antiga Roma.
Cumprimentos,
"Genialidade...", diz o senhor - forma genial de deitar abaixo o meu comentário.
Vamos lá ser sinceros! O génio está todo em Rui Moreira.
Cumprimentos e um abraço.
-----
P.S.: Diga-me cá uma coisa: que é feito do estimado Pró-7RA? Espero que esteja tudo bem com ele. Será que está ocupado nalguma assessoria a algum destacado regionalista do Porto?
Um abraço para ele.