A indústria nacional de calçado continua, pela via das exportações, a fazer o seu caminho contra a crise económica.
De
acordo com os dados da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado,
Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), na primeira metade
do ano, o setor exportou 32 milhões de pares de calçado, no valor de 747
milhões de euros, um acréscimo de 3,1% relativamente ai período homólogo do ano
anterior.
Este
desempenho surge depois de em 2011 as exportações terem crescido 16% face ao
exercício anterior. A indústria portuguesa de calçado exporta, atualmente, mais
de 95% da sua produção para 132 países, nos cinco continentes.
"O
setor de calçado tem feito o trabalho de casa", afirma o presidente da
APICCAPS, Fortunato Frederico. "Depois de nas últimas décadas ter apostado
fortemente na modernização tecnológica, ao ponto de existirem hoje em Portugal
algumas das mais importantes e modernas fábricas do mundo, priorizou nos
últimos anos fortemente a área comercial e a promoção comercial externa. É uma
estratégia definida há já mais de 30 anos que, começa, naturalmente a dar
resultados, mesmo numa conjuntura internacional altamente adversa", disse
o responsável associativo à "Vida Económica". Com efeito, o calçado
afirma-se como um dos setores que mais contribui para a balança comercial
portuguesa: só na primeira metade do ano, há a assinalar um contributo positivo
de 528 milhões de euros.
De
acordo com a publicação trimestral da APICCAPS, feito em colaboração com a
Universidade Católica do Porto, os empresários estão moderadamente otimistas
para os tempos mais próximos. "Os resultados do setor dependerão sempre da
evolução da situação económica atual. Os resultados do primeiro semestre deste
ano - crescimento de 3% - são por isso deveras importantes, porque se seguem a
um dos melhores desempenhos de sempre do setor, que cresceu 16% em 2011. A
nossa expectativa é que terminemos 2012 com um novo registo positivo",
refere Fortunato Frederico.
Contra
a estagnação, exportar, exportar
Ainda
que a Europa seja o mercado de referência para o calçado português, os países
extracomunitários estão a revelar-se o grande motor de crescimento do calçado
português em 2012. Com efeito, no primeiro semestre do ano, as exportações
portuguesas aumentaram 1,2% no Velho Continente, mas aumentaram mais de 40% no
resto do mundo.
Na
Europa, entre os principais mercados, há a assinalar um ligeiro recuo em França
(menos 1,5% para 192 milhões de euros) e um crescimento assinalável na Alemanha
(mais 8,5 para 148 milhões de euros). Também na Holanda, Espanha e Reino Unido,
o desempenho de 2012 fica, para já, aquém dos resultados do ano passado. Fora
do espaço europeu, destaque para os importantes crescimentos nos Estados Unidos
(mais 60% para 9 milhões de euros), Rússia (mais 31% para 8,7 milhões de
euros), Angola (43% para 6,3 milhões de euros), Japão (mais 30% para 6,2
milhões de euros) e Canadá (5,1% para 5,3 milhões de euros).
As
exportações são, explica o presidente da APICCAPS, a única saída para a
indústria nacional de calçado, uma vez que a dimensão da indústria portuguesa
"excede largamente" a dimensão e necessidades do próprio mercado
doméstico. "Daí que a estratégia do setor passe, por um lado, por
consolidar a posição relativa nos mercados europeus e, por outro, aprofundar a
penetração noutros mercados de elevado potencial de crescimento como Rússia,
Japão, Estados Unidos, América Latina, países árabes ou China", indica o
entrevistado.
Apesar
desta estratégia, Fortunato Frederico mostra preocupação com o abrandamento do
consumo, "praticamente generalizado", no grande mercado interno
europeu. "Esperamos que a Europa, já a partir de 2013, possa retomar o
caminho do crescimento", refere a nossa fonte.
Sobre
o cenário existente, na maioria dos setores de atividade, em Portugal, de
atrasos nos pagamentos entre clientes e fornecedores empresariais, o presidente
da APICCAPS não esconde que é um problema, mas relativiza. "Criam enormes
dificuldades de tesouraria. Em todo o caso, o facto de a esmagadora maioria das
empresas de calçado recorrer, com frequência, a seguros de créditos é uma
garantia adicional que, com mais ou menos atrasos nos pagamentos, as transações
comerciais ocorram com normalidade", explica.
@ Aquiles
Pinto, Vida Económica
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