Depois, não se queixem!
Com a falência iminente, Portugal redescobriu os méritos da
exportação. Como de costume, os olhos voltaram-se para a região do Norte.
O padrão das exportações tem evoluído. Alguns dos seus sectores
mais importantes foram afectados pela intensificação da concorrência
internacional e perderam peso.
Quase todas as multinacionais que exploravam os
baixos salários se foram embora. A renovação do tecido empresarial não se tem
feito ao ritmo que seria desejável. Ainda assim, vai-se a ver, e o Norte
aguentou-se, mantendo, mesmo nos períodos mais difíceis, um saldo comercial
externo positivo.
Será que poderemos continuar a contar com eles, pergunta-se. Até
agora, as empresas nortenhas não desmereceram tendo acompanhado, ou até
superado, o ritmo de crescimento das exportações nacionais.
Qual o segredo?
"É sempre assim, quando têm de fazer pela vida!", dirão alguns. É
verdade. Será, ainda, mais forte no Norte essa proverbial capacidade de
desenrascanço que significa, no caso em apreço, encontrar novos mercados,
melhorar os produtos, ajustar-se e responder às necessidades e exigências dos
clientes, conseguir reduzir custos.
Ao lado, há os que tinham vindo a fazer o seu caminho e que
encararam este como mais um dos múltiplos desafios com que se habituaram a
viver. E há os novos, literalmente, que escolheram surgir na cena internacional
como modo de ser.
Um olhar mais
cuidado permite encontrar aparentes paradoxos. Algumas das empresas que melhor
sobrevivem trabalham por subcontratação, nalguns casos para um número muito
limitado de clientes. Reconhecem que não têm competências nem meios para mais.
Não embarcam em aventuras. Estabeleceram relações de confiança. A sua
fiabilidade levou a que alguns clientes voltassem.
São o exemplo de quão perigoso é seguir modas e determinações
genéricas que ignoram as diferenças existentes entre as empresas. Não sendo
capa de revista, vale a pena estudá-los por serem o país real.
Tal como se
justifica que se estude o papel de uma logística eficaz no negócio
internacional. O porto de Leixões anuncia que exporta para 120 países. É um bom
exemplo de uma plataforma de internacionalização, uma base a partir da qual os
vários operadores do negócio portuário projectam as mercadorias portuguesas por
todo o mundo.
Uma parte do sucesso tem a ver com a gestão integrada do porto. Uma outra resulta, por certo, da cumplicidade entre a administração
e a comunidade portuárias e da capacidade de, em conjunto, interpretarem o
sentir e as necessidades dos clientes - o conjunto de empresas exportadoras
que, potencialmente, podem recorrer a Leixões.
Quanta desta proximidade se perderá se se diluir a gestão na busca
das malfadadas sinergias, complementaridades e especializações com que sempre
se enche a boca quando não se sabe do que se fala?
A anunciada greve dos trabalhadores portuários e paz laboral que
se tem vivido em Leixões, talvez possam ser um alerta para se evitarem males
maiores. Há-de haver maneira de se melhorar o funcionamento dos portos e, com
isso, facilitar a competitividade das empresas portuguesas.
Mas, logo agora que não temos margem para erros, será avisado
tentar uma solução nunca testada nos principais países europeus? O que pensam
os principais agentes económicos, e as suas associações representativas, do
assunto? Não terão grande legitimidade em contestar, depois, se não falarem
antes. Quem cala consente!
E não é só Leixões.
Qual a posição sobre o processo de privatização da ANA? Nos últimos anos, o
aeroporto Sá Carneiro tem protagonizado uma mudança que muito beneficiou a
região. Talvez se tenham perdido algumas ligações intercontinentais. As
alternativas no transporte de carga e a multiplicação de voos
"low-cost" mais do que as compensaram.
O transporte aéreo é, hoje e no futuro, crucial para o negócio
internacional. Para o que se vende e para quem o faz. O turismo é a actividade
exportadora de maior valor acrescentado. Em nenhum caso se admitem recuos. Para
esse efeito, a propriedade e a gestão do aeroporto são, para os empresários da
região, indiferentes?
Comentários
Agora, num tempo em que as parceria público-privadas estão 'diabolizadas' não sei se estes senhores mantêm a mesma opinião.