Nobel da economia: ajuda internacional não deve ir só para governos centrais.
A
ajuda internacional aos países em vias de desenvolvimento não deve ir apenas
para os governos centrais mas também para autoridades locais, disse Roger
Myerson, vencedor do Nobel da Economia de 2007.
"Quanto
nos deparamos com governos que não servem bem os seus povos,
o problema tipicamente começa por haver um governo muito centralizado, muito
baseado na capital, com uma elite à volta do presidente que acumula os
benefícios do Estado e uma administração fraca nas províncias", afirmou
Myerson, à margem de uma conferência sobre desenvolvimento económico em África
na Universidade Nova de Lisboa.
"Instituições
como o FMI ou o Banco Mundial aprenderam há várias décadas que dar dinheiro não
chega, e começaram a falar em reformas institucionais. Mas quais?",
questiona, notando que muitos líderes de países africanos se limitaram a
"fingir" fazer reformas democráticas.
"A
ajuda do estrangeiro não deve ir só para o governo central. Deve ir também para
autoridades regionais e municipais", explica Myerson.
"Deve
haver autarquias locais com orçamentos transparentes. Essas autarquias devem
ser eleitas a nível local, e ter um acesso claro a fundos de desenvolvimento.
Alguns autarcas vão roubá-los, mas outros vão usá-los para benefício do
povo", considera Myerson.
"A
última coisa que um presidente de um país destes quer é ter mais alguém a
ganhar a reputação de gastar bem os fundos públicos. Prefere manter tudo junto
do palácio presidencial", disse o economista norte-americano, professor na
Universidade de Chicago.
Myerson
diz que esta lição se comprova pela experiência dos Estados Unidos no Iraque ou
no Afeganistão.
"As
intervenções recentes dos EUA tenderam a criar governos muito centralizados. Isso
é muito conveniente para os 'clientes' que pusemos no poder, mas não foi bom
para os países", afirma Myerson. "O poder local teve um papel muito
importante no desenvolvimento da democracia na Europa e na América do Norte.
Creio que ter apenas umas presidenciais, com um único líder, não ajuda a
construir a democracia; eleger presidentes da câmara, assembleias locais, isso
sim, tem um impacto positivo."
@Lusa
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