O fim do sonho
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Nós acreditámos no sonho. No sonho de um país feito de
autarquias democráticas, livres, focadas nos seus territórios.
Nós acreditámos no sonho. No sonho de multiplicar escudos e de
fazer muito com pouco, de fazer valer o espírito de pertença para se conseguir
atingir objetivos comuns.
Nós acreditámos no sonho. No sonho de outorgar aos municípios a
responsabilidade de fazerem quadros políticos empenhados e sérios para a vida
democrática.
Nós acreditámos no sonho. No sonho de se consagrar um país bem
pensado, onde os investimentos seriam feitos com atenção às necessidades do
presente e do futuro.
Nós acreditámos no sonho. No sonho de se partir dos municípios
para as regiões, estruturando o país de acordo com os princípios da
subsidiariedade e seguindo as marcas da maioria dos membros da União Europeia.
O sonho acabou. Tudo o que tínhamos sonhado terminou.
O sinal mais visível desse fim foi a reunião ensandecida que a
associação de municípios realizou no passado fim-de-semana. Insultos, falta de
urbanidade, incapacidade para se avaliar o impacto negativo que no país se
revelaria.
A ANMP nasceu para ser uma voz, não um sindicato. Nasceu para
ser um parceiro, não uma força de oposição. Nasceu para que, todos, tivessem
condições de partilhar as melhores práticas. A ANMP falhou e findou no modelo
que tem 25 anos.
No congresso da balbúrdia apareceu uma só ideia: – o aumento das
taxas municipais. Que bela ideia, semelhante a todas as que sempre se seguiram
em tempos e aperto. Nem uma só palavra para a refundação das competências, nem
uma só proposta para a requalificação do quadro de prestígio que há muito se
afastou. Os autarcas foram, até, brindados com várias comunicações de
modernaços técnicos que, atrás dos seus PowerPoint, bramiram coisas comuns.
Estamos a chegar ao fim de um ciclo. E só ainda não viu quem se
enreda em tacticismos de submundo.
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