Talvez um destes dias as pessoas
de Bragança façam um referendo e se unam a Espanha. Estão no meio da Península
Ibérica, estrategicamente situados, mas face a Portugal (Lisboa) estão numa
ponta inacessível de que ninguém quer saber.
É o único distrito que ficou sem
uma ligação rodoviária moderna (hoje em dia é pecado dizer-se autoestrada...),
não tem comboios e agora também não tem aviões - a última viagem foi esta
semana e o Governo, ainda por cima, deve dinheiro, desde abril, à empresa que
explorava a ligação.
Bragança é uma ilha, mas sem as
vantagens da Madeira ou dos Açores onde, ao menos, as passagens aéreas têm
subsídios garantidos, inquestionáveis, haja ou não haja prejuízo naquelas
rotas. Nenhum túnel da Madeira ficou a meio, não há ribeira que não tenha sido
reconstruída depois do vendaval de 2009. Mas para o túnel do Marão não houve,
não há e não haverá dinheiro. Bragança, visto do Terreiro do Paço, interessa
pouco. Meia dúzia de pessoas... E só se vai lá em campanha eleitoral - ainda
por cima há sempre um bom argumento para se vender um bom candidato: é dizer
que vai acabar a autoestrada! Resulta sempre.
Visto da ótica de quem lá vive
algo pode mudar entretanto. Os eixos ferroviários de bitola europeia (erradamente
conhecidos por TGV...) vão parar em Puebla de Sanabria, a 40 km da cidade
transmontana. Madrid ficará a duas horas. Lisboa está atualmente a cinco de
automóvel e a seis de autocarro.
Ora, Espanha está mal, mas não tão mal como
nós. Portanto, faz cada vez mais sentido que Bragança e os seus empresários ou
estudantes virem as costas a Portugal e olhem o país vizinho. Há uma rede de
autoestradas ali mesmo à mão e que está já na fronteira portuguesa, há uma rede
de comboios para tentarem negócios ou empregos em grandes cidades espanholas. E
mais: até acho que no poder central português agradeciam, e muito, que
acabassem com... Bragança... Valha-me Deus... Só despesa.
Se eu vivesse em Bragança
assistiria à presença do 'transmontano' Passos Coelho no Congresso do PSD
Madeira com o cartão de cidadão da República Portuguesa na mão. E um isqueiro.
E um ímpeto, ali vai-não-vai. Aquele ímpeto que têm os sócios de um clube
quando a equipa de futebol atinge o ponto da vergonha.
Até dói ver a vassalagem
do primeiro-ministro do continente ao ditador-mor da ilha. Porque, na verdade,
é o chefe da Madeira que autoriza o presidente do seu partido a ir ali falar, e
não o contrário. Passos vai então, obediente, esquecendo tratar-se de alguém
que apenas há um ano atrás escondeu despesa colossal para depois exibir obras,
às dezenas, antes das eleições...
Face a isto (e muito mais...) um transmontano
tem de se perguntar o que faz aqui. Em Portugal.
(...)
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