A palavra em si, “interior”,
possui densas conotações psicanalíticas e intimistas, geográficas e
etnográficas, e, ultimamente, tem vindo mesmo a tomar contornos míticos que
urge reposicionar, sob pena deste termo servir de “pau para toda a colher” nas
teses políticas de sinal contrário, e confundir a cidadania sobre as prementes
questões territoriais, demográficas, sociais, económicas, sanitárias,
educacionais, ambientais, culturais, políticas e administrativas, que impendem
sobre o que comummente se denomina hoje por “questão da interioridade”.
Sobre esta questão, no atual
contexto, e porque de questão se trata, enunciemos com pertinência os
principais dados do problema, do nosso ponto de vista, e, como ponto de vista.
Primeiro, este debate não dispensa
uma análise desmistificadora das ideologias dominantes em matéria de
desenvolvimento, e daquilo que não feito e porque o não foi, como daquilo que
foi feito e de que modo o foi. Esta necessidade assenta na constatação de que
naquilo que se fez até agora muito erro de perspetiva se cometeu, e que muitas
sanguessugas e rémoras de interesses ilegítimos estiveram sempre
disfarçadamente coladas a programas e ações vocacionadas para o desenvolvimento
do país e do interior.
Também não dispensa uma análise
fina e pormenorizada da situação atual e dos valores que defendemos para um
território e suas comunidades de vida sustentáveis.
Como modelo de desenvolvimento,
desde já dizemos que nos parece errado encarar as necessidades e lógicas de
desenvolvimento sustentável do interior nos moldes em que foram e têm sido
perspetivadas, guiadas por critérios que já abriram falência, designadamente as
lógicas de desenvolvimento materialista e economicista, assente em lógicas do
lucro e no consumismo, em vez de se atenderem às necessidades e valores
essenciais à qualidade de vida das populações e comunidades locais.
Os sinais
anunciados pelos decisores nacionais e locais em matéria de ações e projetos
previstos para aproveitar os fundos comunitários do QREN são anunciadores de
megalomanias, caprichos ou lógicas eleitoralistas nacionais e autárquicas que
auguram repetidas oportunidades perdidas.
O interior, antes tudo, precisa de
se afirmar como identificação territorial, cultural e social e apostar
convictamente na valorização do seu património endógeno.
Porque, no passado, nesta matéria,
fizeram-se pequenas e desacreditas ações de índole folclórica e sem
investimento crítico e estruturante.
Nunca se apostou de forma séria em
conservatórios de artes e ofícios tradicionais regionais. O artesanato e as
artes e ofícios foram sempre vistos como pequenos animadores de feiras locais
oportunisticamente montadas para fins contrários aos legítimos interesses dos
artesãos.
Os autarcas do interior, de um
modo geral, têm praticado a política do cimento armado anárquico, ao sabor dos
interesses alheios ao bem comum, e do centralismo urbano em detrimento das
comunidades rurais.
Se perguntarem aos decisores
locais o que entendem por desenvolvimento imaterial sustentável, vão rir-se na
vossa cara!
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JOÃO SERRA
DOS REIS
Comentários
Não é amelhor maneira, mas é o que é.
Acho que o blogue n se assume como nacional. E isso faz falta.
A imagem de topo do Blog nem sempre foi esta, tem mudado com o tempo e a seu tempo voltará a mudar.
Penso que as vossas críticas são pertinentes mas, infelizmente para esta causa da regionalização os seus grandes entusiastas estão muito concentrados, em duas áreas territoriais - Porto (alargado) e no Algarve.
Cumprimentos,
Não concordo com essa concentração que diz existir. Talvez os politicos dessas zonas que mencionou falem mais do assunto, mas no que toca às pessoas, acho que há entusiastas em todo o lado na mesma proporção. A excepção poderá ser Lisboa.