O PAÍS ESTÁ MAL, MAS O NORTE ESTÁ PIOR !

Desnorteados

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Definitivamente, as coisas estão feias para o Norte do país. Sendo certo que a generalidade dos portugueses está a viver o seu pior tempo depois do 25 de Abril, é evidente que a situação tem vindo a ficar ainda mais difícil para os que vivem na região norte. Acresce que não se vislumbra, por parte de quem nos governa, qualquer atitude para corrigir o ritmo deste declínio. Bem pelo contrário.

Rememorando o que aqui tem acontecido, as decisões mais recentes demonstram a total indiferença dos poderes públicos nacionais perante a degradação económica e social da região.

Como pudemos constatar há algumas semanas, através dos números publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, a riqueza produzida na Região Norte tem vindo a decair perigosamente, a ponto de sermos hoje a mais pobre das regiões portuguesas, Madeira e Açores incluídos. 

De pulmão da economia nacional, centro da indústria transformadora e motor do crescimento, depressa passamos para a cauda do pelotão. A coesão económica e social tão incensada em termos europeus, é em Portugal uma miragem. 

Como já antes aqui referi, o fosso que nos separa da região mais desenvolvida - a de Lisboa - tem vindo a aumentar em vez de se atenuar. É claro que esta situação não aconteceu hoje.

Mas o que é por de mais perturbante é a forma como se tem acentuado este agravamento nos últimos tempos, sem que nada tenha sido feito para o evitar. Bem pelo contrário, a preocupação aumenta quando nos damos conta da sobranceira indiferença com que a situação é encarada por quem nos governa. Chego a pensar se esta não é uma atitude deliberada para procurar diminuir a tradicional capacidade afirmativa do Norte, mostrando o Governo, com a sua intransigência, que não se deixa influenciar e que não cede a pressões. Não haverá melhor exemplo para o país do que procurar calar quem tem visibilidade e abafar desde logo a reivindicação, por mais justa que ela seja.

Senão, como se entenderiam os conflitos com a Casa da Música, em que o Governo diz e se desdiz, ou a incompreensível subalternização dos estúdios do Monte da Virgem da RTP, tão profusamente referidos na Comunicação Social?

E como se tudo isto não bastasse, aparece agora a inesperada proposta para serem introduzidas mais 16 portagens em ligações viárias, sendo que 14 delas se concentram no Norte do país. São demasiados sinais de desnorte. Como muito bem diz Rafael Barbosa no seu comentário de sexta-feira "chama-se a isto equidade, em versão centralista".

Para se entender a injustificável atuação do Governo, só há uma outra possibilidade - é ele não ter uma linha de rumo para o país e andar à deriva. Tendo como único objetivo cumprir as metas assumidas com a troika, corta onde pode e onde não pode, sem curar das consequências e tenta esbulhar o último punhado de euros dos bolsos de quem ainda os possa ter. À falta de um projeto para o país que nos faça crescer e, por essa via, permita aumentar a receita fiscal, vale apenas o programa dos credores.

O que mais assusta é vermos que o Governo entende que está no bom caminho. As trombetas do potencial sucesso de um défice perto dos 5% , mesmo que com receitas irrepetíveis, já se fazem ouvir e ainda não sabemos se o conseguiremos. É evidente que o controlo do défice é importante. Mas ele não pode ser atingido a qualquer preço, como repetidamente se tem dito.

A luta política sobe de tom. Sente-se que os portugueses estão no limite da sua capacidade de resistência. O Partido Socialista, única alternativa visível de Governo, aumentou esta semana a parada e fala objetivamente de eleições antecipadas, pedindo maioria absoluta. Os partidos da coligação, por seu turno, contra-atacam e desvalorizam a tomada de posição do PS argumentando que tal se deve a lutas internas pela liderança (o que, se fosse verdade, o descredibilizaria completamente).

O ambiente que se vive no país é tudo menos calmo. O número e a importância das vozes que se faziam ouvir contra uma possível crise política diminuiu a olhos vistos. Se o país está mal, o Norte está pior. Mas uma coisa é certa - aconteça o que acontecer, já nada temos a perder. Ao fim e ao cabo, qualquer alternativa será sempre para nós um motivo de esperança.

Comentários

Pedro Soares disse…
Fernando Gomes trocou o Norte por Lisboa. Depois disso ainda teve a lata de se recandidatar ao Porto, mas a população deu-lhe a ensinadela que merecia. Não se consegue descolar da imagem de hipócrita, mesmo que diga acertadamente que o Norte tem sofrido por demais com a crise e a governação actuais.

Quanto ao seu partido, dizer que é a única alternativa ao governo, é risório. Um partido que ainda está recheado com as mesmas pessoas que participavam e suportavam o inenarrável governo de Sócrates não será nunca alternativa viável.
Rui Silva disse…
Caro Pedro Soares,

Discordo em toda a linha do teor deste seu comentário.

O Fernando Gomes foi, quer se queira quer não, o político que até hoje melhor defendeu o Porto e Norte. É o responsável direto pela existência do Metro do Porto que outros diziam que era de 'papel'.

Quanto ao Governo de José Sócrates quero-lhe dizer que foi o primeiro governo em 30 anos a baixar o défice para os 2% do PIB e sem necessidade de empobrecer radicalmente o país.

Também já está mais que provado que não fosse o chumbo do PEC IV e consequente queda do Governo e hoje não teríamos por cá a 'troika' que só serviu para destruir a nossa economia, aumentar o desemprego e, mesmo a nossa dívida pública que no tempo do Sócrates era 90% do PIB disparou com a troika e com as políticas do atual governonão para os atuais 121%.

Estes são dados objetivos já as suas opiniões são meramente subjetivas claramente desmontadas pelos números.
Pedro Soares disse…
A subjectividade das opiniões é um dado adquirido. Tal como na sua de que o Fernando Gomes é o melhor defensor do Norte.

Quanto à objectividade dos dados, concordará que sem fornecer fontes para o que descreveu, é difícil levá-lo a sério. Não se esqueça que está na Internet; os números não são válidos só porque se deu ao trabalho de os teclar.

Devia também reaprender a arredondar números. O défice de 2007, inicialmente de 2,7% e o mais baixo da era de Sócrates, arredonda-se para 3 e não para 2. Foi depois revisto para 3,1%. E em apenas dois anos a eficácia estonteante do governo de Sócrates elevou-o para 9,5% em 2009, revisto depois para 10,2%. O valor mais alto de sempre em Portugal desde que há democracia.

Fonte, ou como se desmistificam dados "objectivos" com uma simples busca no Google: http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=15604

Mas como faço questão que tenha dados oficiais da república, até lhe deixo o link para o INE, basta clicar na ligação para o ficheiro de Excel: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_pesquisa&frm_accao=PESQUISAR&frm_show_page_num=1&frm_modo_pesquisa=PESQUISA_SIMPLES&frm_texto=defice&frm_modo_texto=MODO_TEXTO_ALL&frm_data_ini=&frm_data_fim=&frm_tema=QUALQUER_TEMA&frm_area=o_ine_area_ContasNacionais

E agora, ainda quer brincar aos números?

Uma última achega: não suponha a minha ideologia política, vai errar.
Anónimo disse…
Mas ainda há quem defenda Socrates e o PS???
Se o PEC 1,2 e 3 falharam porque é que o 4 haveria de funcionar?

Hoje pagamos as emissoes de obrigaçoes que ele fez, enquanto ele leva vida de rico em Paris.
Rui Silva disse…
Caro Anónimo,

São melhores os PECs da 'troika' com os seus 17% de desempregados e com previsões que apontam para muito mais a curto prazo.

Hoje, por força dos 78.000 milhões que pedimos à 'toika', dos quais 12.000 milhões para a Banca, estamos com um serviço dívida que ultrapassa os 8.000 milhões ano. E com uma dívida pública a ultrapassar os 120% PIB.

Estamos melhor? Deve ser brincadeira sua..!
Rui Silva disse…
Caro Pedro Soares,

É admirável como a memória das pessoas é curta.

Lembro-lhe que a grande derrapagem das contas públicas posteriores a 2008 foram generalizadas (não exclusivas de Portugal) e resultaram de uma imposição da UE que para combater os chamados efeitos do 'subprime' levantou aos Estados membros os procedimentos dos défices excessivos e convidou-os a gastarem o mais possível por forma a não deixarem cair a economia.

Quanto à correcção aos meus números, no essencial, só veio reforçar a minha razão.
Pedro Soares disse…
Primeiro arrisca o valor irreal de 2% de défice, esquecendo-se da subida vertiginosa dois anos depois. Logo a seguir já não há problema de ter sido de 10,2% em 2009, porque a UE disse para gastar. E já em 2009, também foi a UE a ditar aumento salarial para a função pública antes das eleições legislativas desse ano?

Vangloria-se de um valor mínimo que nunca existiu e ainda relativiza a gravidade do valor mais alto de sempre do défice.

Afinal a culpa é dos outros. É por causa da UE que a troika está cá. Nem é por causa do governo de Sócrates que estava em funções desde 2005 até 2011, ano em que esse mesmo governo negociou os termos da troika com que agora vivemos e depois se escusou à canseira de governar com esses mesmos termos.

Admirável é memória selectiva, cegueira voluntária e incapacidade para assunção de responsabilidade.
Rui Silva disse…
Caro Pedro Soares,

Dê uma vistas de olhos aos relatório da OCDE sobre os notáveis progressos na Educação conseguidos por Portugal no período 2005 /2011.

Veja também o 'Relatório de Desenvolvimento Humano' publicado pela ONU e constate os enormes progressos feitos por Portugal no período referido.

Como diz Nuno Severiano Teixeira na sua recente entrevista ao Jornal de Negócios "a história fará justiça a Sócrates”.
Anónimo disse…
Caro Rui Silva,

Entre os PEC da troica e od do PS a diferença a nivel de cortes não é muita.

Mas a diferença a nivel de endividamento é alguma.
Agora já nao temos planos de 3ª travessia, novo aeroporto, TGV nem outros tantos.
OS valores que indicam são resultado da governação dos ultimos 15 anos (PS e PSD).

O serviço da divida de hoje é resultado de emissoes de obrigaçoes do passado que eu saiba.
Rui Silva disse…
Caro Anónimo,

Claro que o serviço da dívida tem a ver com a emissão e resgate de títulos e isso sempre foi assim. O problema é que com o brutal acréscimo dos 78.000 milhões (12.000 milhões para a Banca) o serviço da dívida cresceu enormemente - 4.935 milhões em 2010 para os quase 8.000 milhões em 2012.

Quanto ao novo aeroporto e ao TGV aconselho-a a esperar para ver. A concessão da ANA à VINCI faz-nos querer que estes temas vão voltar a estar em cima da mesa.
Cps.
Carneiro disse…
O PSD não tem feito nada de bom ao páis. Este Passos Coelho só diz mentiras atrás de mentiras. E ainda há quem o defenda aqui com unhas e dentes. O Sócrates pode e tem culpas neste actual estado das coisas, mas tudo começou nos governos corruptos de Cavaco Silva e tb com o seu despesismo e obras inúteis.