As
reformas do ciclo Mousinho da Silveira, goste-se ou não se goste delas – e eu
pessoalmente abomino-as, por contrárias ao meu sentimento de lusitano antigo,
educado nas fileiras do Integralismo – foram reformas, destruíram, primeiro e
depois construíram sobre destroços.
O Rasga-Bandeiras acabou com as corporações de artes e ofícios – os grémios e bandeiras, que não mais se reconstituíram entre nós, mau grado a legislação saída da pena de Pedro Teotónio Pereira, o mais puro integralista que em Portugal já exerceu funções de grande relevância.
O
Mata-Frades matou a instituição fradesca que nem o Estado Novo logrou
ressuscitar.
Os
vários Degola-Concelhos, múltiplos porque o Passos José, o José da Silva
Passos, só responde pelo fim de algumas dezenas de municípios num universo de
quase mil, até terão feito obra notável, porque deram golpes de misericórdia em
instituições agónicas.
Mas
esta reforma administrativa de agora que apenas se cifra na substituição de
umas tantas freguesias por cerca de seis onze avos de uniões de freguesias não
passa de um aborto ou nado-morto processo reformista.
Podia
ter-se jogado com a autoridade da Troika ou com o carácter ditatorial das suas
imposições para extinguir concelhos cuja existência é meramente formal e que
custam milhões e não prestam serviços porque não podem nem têm a quem
prestá-los.
Há,
efectivamente, dezenas de concelhos que não têm área, população ou receitas que
lhes justifiquem a existência, que estão encravados noutros com muito mais
possibilidades de servir melhor…
Os
nossos governantes não tiveram coragem para o fazer e os homens da Troika não
entendem a nossa estrutura administrativa filha do sapientíssimo município
romano, com ligações aoconventus publicus vicinorum da alta Idade Média, até
dos ajuntamentos da Cabília.
A
montanha reformista, em boa verdade, não pariu mais do minúsculo musaranho.
E até
este termo «união de freguesias» desfaz toda a ideia de reforma.
Manuel Leal Freire
no ‘Capeia Arraiana’
no ‘Capeia Arraiana’
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