Contra a pretensão do Governo de apresentar a reforma do Estado
como um expediente para eliminar custos descartáveis e destruir serviços
públicos fundamentais na saúde, na educação e na proteção social, evitando o
ónus de enfrentar, em debate público, a exigência de fundamentar as suas opções
políticas, procurei aqui enumerar um conjunto de medidas de reforma do sistema
político e do setor da justiça que adiantam respostas pontuais para alguns
problemas crónicos há muito diagnosticados, sem descurar a escassez de recursos
financeiros que as políticas de austeridade apenas têm agravado.
Este quadro ficaria irremediavelmente amputado se não contemplasse
as questões do reordenamento do território e a reforma da administração
territorial, instrumentos essenciais da verdadeira reforma das instituições, da
racionalização dos serviços e dum saneamento financeiro consistente e
duradouro.
Um Governo seriamente
empenhado em eliminar desperdícios e reduzir custos a título permanente, como
proclama, teria começado justamente por aqui, pelas questões estruturais.
Mas em vez disso, envolveu-se numa verdadeira operação de
sabotagem do poder local, de destruição de freguesias, de encerramento de
tribunais e desmantelamento de redes de serviços, sem ouvir as populações nem
atender aos seus particularismos, disfarçada pela cosmética pretensamente
descentralizadora das "comunidades intermunicipais", uma velha
obsessão do ainda ministro Senhor Relvas.
Sem apresentar um motivo sério, o Governo desistiu
precipitadamente da reforma dos municípios e da nova lei do governo local,
apesar da matéria reunir largo consenso nos partidos e na sociedade. A proeza inaugural
da extinção dos governadores civis não teve qualquer sequência. E a governação
reincidiu nos velhos vícios centralistas e até acelerou o esvaziamento da
administração desconcentrada em benefício da burocracia da capital.
O que podia ter sido já feito,
se o Governo tivesse agarrado o problema, como seria lógico, no início do
mandato? Em primeiro lugar, a transferência do que resta das estruturas
desconcentradas da administração central nos setores da saúde, educação,
emprego, segurança social, agricultura, ambiente, economia, obras públicas e
administração interna, para as cinco Comissões de Coordenação Regional.
Depois,
numa lógica de descentralização e subsidiariedade, as competências relevantes
para o planeamento e desenvolvimento regional ficariam nas Comissões de
Coordenação e as outras seriam atribuídas aos municípios.
Os ganhos de proximidade e de simplificação organizativa, por um
lado, e a racionalidade e a economia que esta solução poderia assegurar são
evidentes.
Uma vez executada a reforma com rigor e boa-fé, iria impor-se mais
tarde a necessidade da legitimação democrática dos governos regionais, mas já
num ambiente liberto da demagogia e incertezas que armadilham, hoje, a própria
viabilidade de um debate sério sobre a regionalização.
Não fora a queda do Governo de Francisco Pinto Balsemão, o
imperativo constitucional da criação das regiões administrativas já teria sido
cumprido em 1983, quando o Prof. Luís Valente de Oliveira presidia à Comissão
de Coordenação da Região Norte!
Terminado o ciclo milenar das
invasões celtas, romanas, suevas, visigóticas e árabes, o país amadureceu no
interior das mais velhas fronteiras da Europa, por breve tempo. Ressuscitado o
ímpeto das conquistas, criou, "além do mar", o império que revelou ao
Mundo a sua primeira imagem integral e durou quatro longos séculos.
Mas após as inúmeras farsas que o replicaram e a trágica paródia
da guerra colonial em que por fim se esgotou, Lisboa trocou a dimensão
cosmopolita de centro de um império decadente pelo estatuto indigente da
capital de província em que a miopia dos governos e a mesquinhez dos interesses
a pretendem transformar.
É isto mesmo o que demonstra a desolação do interior e as
flagrantes assimetrias regionais. Mas não é um fado que nos condene à
resignação!
@JN
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