Os trabalhos de Castro
A escolha de Castro Almeida para secretário de Estado do Desenvolvimento
Regional é uma boa notícia. Ou melhor: é, à partida, uma boa notícia. As
tarefas a cargo do ex-presidente da Câmara de São João da Madeira são de tal forma
importantes que acontecerá, pela certa, uma de duas coisas: ou Castro Almeida
dá boa conta do recado, ou será rapidamente engolido pela máquina centralista e
centralizadora em que se transformou o Governo.
As condições de partida de Castro Almeida são assim-assim. O novo
secretário de Estado conhece bem o poder autárquico (fez um trabalho
assinalável no concelho de São João da Madeira), é um homem em cuja formação
pesa a passagem pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Norte, tem ideias próprias e jogo de cintura, conhece as potencialidades e as
dificuldades das regiões, defende a descentralização de competências e a
criação de um patamar médio supramunicipal, pugna pela regionalização. É um bom
cartão de visita.
Acresce que Castro Almeida chega ao Governo num momento delicado,
é verdade, mas em que parece definitivamente perdida a batalha que Vítor Gaspar
travou com o ministro da Economia pelo controlo dos fundos comunitários. Se
essa estratégia suicidária tivesse seguido em frente não fazia sequer sentido
ter um secretário de Estado do Desenvolvimento Regional.
Passos travou-a a tempo - e entregou a pasta a Miguel Poiares
Maduro, o novo "sr. milhões". Ora, se o ministro da tutela é "o
sr. milhões", Castro Almeida tem de assumir-se como "o sr.
QREN".
Os fundos comunitários são a única fonte de receita garantida do
Estado. Saber alocá-los, de acordo com uma estratégia de ligação aos
territórios em que seja possível concretizar aquilo a que José Mendes,
vice-reitor da Universidade do Minho, chama a "regionalização
oficiosa" (resultado do networking entre atores locais e regionais capaz
de juntar forças, criar estruturas e processos de decisão eficazes, bem como
lógicas de investimento que maximizem o valor de cada uma das regiões, das suas
empresa e das suas instituições) é, resumidamente, a hercúlea tarefa que Castro
Almeida tem pela frente.
Não é fácil. Mas é, para citar o próprio secretário de Estado,
porventura a melhor forma de contornar o "centralismo napoleónico"
que ele via quando, a partir de São João da Madeira, olhava para Lisboa.
Por fim, Castro Almeida também
sabe que está na mira de muita gente dentro do seu partido. A agitação que
tomou conta do PSD a norte não acabou com a sua nomeação para o cargo: apenas
começou. O facto de estar politicamente conotado com a linha de Paulo Rangel e
Rui Rio é suficiente para que, ao mínimo falhanço, alguém se apresse a pedir a
sua cabeça em público e em privado. Ele sabe disso. Cabe-lhe contrariar isso.
Comentários
Permita D*us que sejam concretizadas!
Um abraco regionalista.