António José Seguro
Entrevista ao Economia/Política
Entrevista ao Economia/Política
27 Ago 2014
Defende uma redução do número de deputados na sua proposta de revisão da lei eleitoral.
Sim, a proposta que avancei é de 180 deputados [actualmente
são 230]. Tem de haver uma concordância com o princípio da proporcionalidade,
que é um dos pilares estruturantes do nosso sistema eleitoral e é o garante de
que não é pela via da secretaria que se elimina a representação parlamentar dos
partidos com menor representatividade.
Mas o fundamental é que o eleitor passa a ter poder para
escolher o seu deputado - ou através de lista aberta, podendo ordenar a lista
dos deputados que o partido lhe apresenta, ou através de círculos uninominais.
Qualquer uma destas situações será combinada com um círculo de âmbito nacional,
sobretudo se houver círculos uninominais.
E a apresentação de candidaturas fora dos partidos?
Todos os sistemas eleitorais devem combinar dois princípios:
a representação e a governabilidade. Os partidos devem garantir as condições de
governabilidade. A pulverização dos sistemas podia ajudar ao princípio da
representatividade, mas retiraria densidade e solidez às maiorias que é
necessário construir no Parlamento. Considero que essa discussão, neste
momento, não é desejável para a necessária estabilidade política do país.
Não há o risco de perderem representação parlamentar?
Pelo contrário. Se optarmos pelo círculo nacional isso
significa que todos os votos nos pequenos partidos contam. Hoje, por exemplo,
um voto no Bloco de Esquerda na Guarda não conta, vai para o lixo. Mas se
houver um círculo nacional todos os votos contam. Portanto, não há aqui nenhum
objectivo escondido.
Este não é daqueles assuntos que merecem um amplo consenso?
E tem de haver. Desse ponto de vista, perdeu-se uma grande
oportunidade, porque na primeira reunião que tive com o primeiro-ministro, há
mais de três anos, em Julho de 2011, disse-lhe que havia um universo de temas
onde era desejável uma convergência. Infelizmente o primeiro-ministro nunca deu
espaço para a construção de convergências no início da legislatura.
Este
era um deles?
Sim. Outro era a reforma do Estado, a organização
infra-nacional. Estava previsto no memorando da ‘troika' a reorganização
administrativa a nível municipal. E disse-lhe: "Vamos aproveitar para pôr
isto a funcionar, criarmos estruturas muito claras a nível regional, a nível
municipal, com competências e recursos, para acabar com as duplicações, as
redundâncias, os gastos de energia".
Levou uma proposta concreta de reorganização do território?
Em termos escritos não. Fiz-lhe essa proposta em Julho, mas
fui surpreendido quando, em Setembro, o então ministro Relvas apresentou o
Livro Verde da reforma.
Reduzir o número de deputados no Parlamento é popular, mas extinguir municípios não. Qual é o número ideal de municípios?
Podemos fazer ganhos de eficiência, e prestar serviços de
melhor qualidade às populações, sem mexer no número de municípios.
Então que reestruturação é essa?
É ao nível da organização da Administração Central. Devemos
fazer separação entre serviços de proximidade e serviços de planeamento. Estes
devem estar alocados às cinco regiões que já existem, através das CCDR - e não
mantê-los no Terreiro do Paço, como acontece. Os serviços de proximidade, tanto
quanto possível, devem ser prestados pelas câmaras municipais.
Está basicamente a descrever a regionalização que foi chumbada em referendo nacional. O que o leva a acreditar, 15 anos depois, que o país aceitaria o que rejeitou na altura?
Sim, as ideias não são muito diferentes. O Estado precisa
ser reformado e a questão que coloca na regionalização é saber se as CCDR devem
ser directamente eleitas ou nomeadas pelo Governo.
Considero que essa questão há-de colocar-se por imposição da realidade. Sou um defensor da regionalização, nunca o escondi, desde que isso não signifique aumento de clientelas partidárias e aumento desnecessário de despesa pública.
Considero que essa questão há-de colocar-se por imposição da realidade. Sou um defensor da regionalização, nunca o escondi, desde que isso não signifique aumento de clientelas partidárias e aumento desnecessário de despesa pública.
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