Ponte aérea centralista
A estratégia da TAP, que tudo concentra em Lisboa em
detrimento dos outros aeroportos nacionais, trouxe o tema da macrocefalia para
a agenda.
Como dizia Rui Rio, ainda há dias, dando, por oposição, o
exemplo alemão, essa macrocefalia é própria de países pouco desenvolvidos. E,
em tese, todos concordam com ele. Contudo, na prática, ninguém ousa interpor-se
no caminho da pesada ponte aérea centralista, que tudo arrasta para Lisboa.
Para muitos políticos, comentadores e jornalistas, bem
sentados na capital, o Porto e o Norte são muitas vezes confundidos com um
lugar bonito, onde têm amigos "porreiros", onde se come bem –
francesinhas, pois claro – e de onde vêm, de vez em quando, uns rapazes de azul
às riscas estragar certas festas. Acontece que o Porto e o Norte não são só
"francesinhas e amigos".
Apesar do enorme e injusto esmagamento, que a inclinação
sistemática dos vários quadros comunitários de apoio veio acentuar, com os seus
"splillover" e quejandos, é a Norte que mais se produz.
Nem sequer precisamos de falar do turismo, os números da
produção industrial e do seu reflexo na balança comercial de bens
transacionáveis são elucidativos. Considerando os últimos cinco anos, este
indicador económico diz-nos que a Região Norte quase duplicou o seu saldo
positivo, agora acima dos cinco mil milhões de euros.
A Região Centro, com cerca de 2,5 mil milhões, e o Alentejo,
com cerca de mil milhões, também contribuem com saldo positivo. Madeira, Açores
e Algarve equilibram contas.
Há, contudo, uma região com saldo negativo: a Área
Metropolitana de Lisboa, que assegura mais de 15 mil milhões de euros de
"prejuízo" na balança comercial de bens transacionáveis. O que torna
o país deficitário neste aspeto fulcral para o seu desenvolvimento.
Hoje, não me apetece escrever muito mais sobre isto. Apenas
deixo a nota: os impostos gerados por toda esta indústria exportadora vão para
uma mesma gaveta, que tem ao lado a dos fundos comunitários. Essa gaveta
encerra mistérios insondáveis para nós, os pacíficos "porreiros",
aqui no Norte.
É por essas e por outras que, à semelhança de Vigo, também o
Porto se sente, muitas vezes, como a salsicha no meio da francesinha. Entalada
entre o fiambre da autonomia galega e o bife tenro do centralismo capital.
@Rui Moreira (21.02.2016)
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