De acordo com a Lei de 1998, ainda em vigor, as Regiões Administrativas no território do Continente são as seguintes:
a) Região de Entre Douro e Minho;
b) Região de Trás-os-Montes e Alto Douro;
c) Região da Beira Litoral;
d) Região da Beira Interior;
e) Região da Estremadura e Ribatejo;
f) Região de Lisboa e Setúbal;
g) Região do Alentejo;
h) Região do Algarve.
Independentemente da opinião que possamos ter sobre o “mapa” assim traçado, a grande questão que se coloca nesta fase do processo é: será esta “arrumação” melhor do que nada, ou será preferível adiar o avanço da implementação da Regionalização até se alterar esta Lei, em conformidade com um mapa melhor e mais consensual?
A resposta não é fácil, mas forçosamente terá que ser dada, sob pena de poder voltar a perder-se a oportunidade de retomar este processo já na próxima Legislatura, eventualmente com a convocação de um segundo Referendo sobre este assunto.
Para responder a esta questão, teremos de nos confrontar seriamente com aquilo que, para cada um de nós, constitui o objectivo primordial, diria mesmo a grande justificação, do complexo processo descentralizador consubstanciado nesta decisiva reforma do nosso Estado Democrático: a Regionalização Administrativa.
Parece-me, quanto a mim, haver três grandes grupos, correspondentes às três visões essenciais desta questão, em que se podem classificar os apologistas da Regionalização e que designaria do seguinte modo: os DESENVOLVIMENTISTAS, os ADMINISTRATIVISTAS e os REGIONALISTAS, num sentido estrito do termo.
Os primeiros acreditam que a Regionalização servirá, acima de tudo, para melhor distribuir a riqueza do País pelos diferentes rincões do nosso território, através de uma maior homogeneidade do respectivo desenvolvimento. Para estes, diria eu (simplificando) que este mapa é tão bom como qualquer outro (ou, pelo menos, que é sempre melhor do que nenhum), pois o mais importante de tudo é mesmo implementar a Regionalização, de alguma forma minimamente coerente e viável, para quanto antes se poder dar início a este processo urgente de “democratização geográfica” do progresso económico e social do País.
Para os últimos, que defendem a Regionalização apenas ou fundamentalmente como forma de afirmação de uma determinada sub-cultura, ou mesmo “sub-nação”, através da criação de uma espécie de mini-Estados (ou Regiões mais ou menos Autónomas), o mais importante é precisamente a delimitação geográfica da SUA Região, pelo que a Regionalização poderá esperar o que for preciso até se encontrar o mapa “ideal” e por isso, primeiro que tudo, pretenderão assim revogar esta Lei, à excepção eventualmente do que respeita ao Alentejo e, sobretudo, ao Algarve, cuja definição à partida não suscita quaisquer dúvidas.
Finalmente para aqueles que, como eu, entendem as Regiões principalmente como Autarquias e a Regionalização como um processo essencialmente técnico e administrativo, com comprovadas vantagens organizativas e económicas inerentes desde logo à criação de um nível de poder democrático intermédio entre o central e o local, a resposta torna-se particularmente difícil, dadas as evidentes más opções do mapa aprovado, por um lado, e o descomunal atraso do País neste campo, face aos nossos parceiros europeus, por outro. Como conciliar então estas duas vertentes antagónicas?
O ideal seria poder corrigir os “erros” deste mapa sem introduzir atrasos no processo, o que equivaleria, na minha opinião, a chegar em tempo útil a um consenso nacional – Governo, Assembleia, Presidente, Tribunais administrativos, Partidos, Autarquias, opinião pública – quanto, acima de tudo, à elevação das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto a Regiões Administrativas (lacuna para mim fundamental na actual Lei), bem como quanto à necessidade de fundir as duas Beiras e igualmente as duas Regiões definidas a Norte do Douro (duas alterações muito vantajosas), para além de outros acertos de mero pormenor (que poderão sempre concretizar-se posteriormente).
No entanto, caso tal não seja possível, sopesando vantagens e desvantagens inclino-me ainda assim para uma maior conveniência em arriscar a implementação da Regionalização com este mesmo mapa, se bem que deixando em aberto a possibilidade de, num prazo razoável (em que se possa já aferir objectivamente do funcionamento desta solução), poderem promover-se os ajustamentos tidos por indispensáveis, neste aspecto como, aliás, noutros em que o actual enquadramento legal deixa, na minha opinião, muito a desejar.
Tudo isto porque continuo convencido de que, sustentada apenas pelos que defendem convictamente a Regionalização com base nesta Lei, ou seja neste mapa regional, não será nada fácil ganhar um próximo Referendo…
Comentários
Neste quadro, estou inteiramente de acordo com o A Castanho, na constatação da lacuna que constitui a ausência das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto como entidades administrativas especiais. É por demais evidente que hoje já não existem mais cidadãos de Gondomar, ou de Gaia, existem isso sim cidadãos metropolitanos que dormem na Maia, trabalham em Matosinhos e estudam no Porto (ou outras combinações). Por que razão só voto eu num presidente de câmara que é apenas responsável pelas minhas horas de sono?
Isto nao so acabava com rivalidadezinhas, como seria ate potenciador de novo desenvolvimento!
Bom Ano 2007.
Estou de acordo com o essencial, embora realce que me parece desproporcionado o número de Vereadores de uma Câmara Municipal face ao número de "secretários regionais" previstos. Se sete decisores chegam muito bem para governar a Região de Lisboa, com 2,6 milhões de habitantes, então se calhar o Governo também não precisa de mais de vinte membros, no máximo, e a Câmara de Lisboa (com pouco mais de meio milhão de habitantes!) de... 1,4 Vereadores!!
Quanto às desejáveis Regiões de Lisboa e Porto muita ATENÇÃO, que não hajam quaisquer confusões: ninguém está a propor que elas se interponham entre os Municípios e as Regiões!!!
O que eu defendo (e penso também o Ant.º A. Felizes) é que elas sejam "subtraídas" às Regiões em que se inserem e constituam, "de per si", Regiões Administrativas em pé de igualdade com as restantes (se bem que, eventualmente, com algumas adaptações adequadas às suas características próprias), tal como aliás acontece com a Comunidade de Madrid, por exemplo!
Por favor, não queiramos complicar, nem inventar o que já está mais que testado na Europa comunitária (e, sobretudo, não interpretemos mal o que se escreve...)!
Quanto aos assessores e etc. até aos coladores de cartazes 1000% de acordo! Mas por amor de Deus, comecemos já pelos órgãos existentes, não atiremos com esse opróbio (que já hoje é bem real) para cima de coisas que ainda... nem existem, como os futuros órgãos regionais!
Vamos é já pegar na pá e na vassoura e começar! Desde o Estado e seus tentáculos (empresas públicas, institutos...) até à Camarazinha mais escondidinha do País - passando pelos grandes "sumidouros" de Lisboa, Sintra, Porto, etc., etc., etc., e respectivas "empresas" municipais e inter-municipais!!!!
Não concorda, caro anónimo?