CONGRESSO NACIONAL MUNICIPALISTA DE 1922

Publico aqui alguns excertos de um Congresso Municipalista realizado há 85 anos. Muitas das suas conclusões continuam perfeitamente actuais.

(...)

"A emancipação dos municípios frizou-o admiravelmente o infatigável secretário do Congresso, Eloy do Amaral- tem de ser, mais tarde ou mais cedo, um facto, e ela só pode trazer para a vida do povo benéficos resultados. O municipalismo bem compreendido é absolutamente isento de paixões partidárias; pode e deve vir a ser um dos mais valiosos elementos de bem-estar e desenvolvimento material do país, principalmente se ela conseguir libertar-se por completo do centralismo absorvente que sempre a tem dominado e tanto tem prejudicado a vida regional.

Combater o centralismo, o mesmo é que combater a tirania da autoridade, o abuso, o arbítrio, a iniquidade.

(...)

Centralizar é retrogradar. Descentralizar é emancipar.

Quereis uma eleição livre?
-Descentralizai.

Quereis um governo das competências?
-Descentralizai.

Quereis o povo na posse dos seus destinos?
-Descentralizai.

(...)

Quais são as bases em que deve assentar a autonomia e descentralização administrativa?

- Extinção dos lugares de governadores civis, de administradores de concelho e de regedores de freguesia;

- Os municípios, provendo à Instrução do povo;

- O deputado representante do concelho que o eleger."

Comentários

Al Cardoso disse…
Os administradores de concelho e regedores, ja sao coisa do passado, no entanto continuamos com os governadores civis, e os deputados nao sao para defender quem os elege mas para fazer o que o partido lhes mandar!
Infelizmente!!!
António Fonseca disse…
António Almeida Felizes: excelente documento histórico.
O seu significado é ainda mais relevante quando o publica novamente 85 anos mais tarde, com uma actualidade impressionante.
Anónimo disse…
Muito bem. Apaludido. Mas o grande mérito não é, não pode ser a crítica. Criticar Salazar, Vasco Gonçalves, Mário Soares, Balsemão, Guterres, Durão e Santana, é muito fácil. Difícil e, por vezes impossível, por omissão, é propôr. Dizer como se deve fazer. Ou pelo menos, dizer que "...se Portugal fosse meu, eu faria assim..." Vamos fazer propostas?...
Anónimo disse…
Sim, de acordo: é preciso fazer propostas!


Quanto a este texto histórico, diria que concordo com os seus princípios, mas que as condições actuais o tornam quase absolutamente obsoleto.

O País de 22 era, de facto, um País de Cidades, Vilas e Aldeias. Com vida própria e quase independente - era possível descentralizar numa base municipal.

A realidade do povoamento em Portugal é hoje totalmente diversa. A apropriação e o funcionamento do território não deixa lugar a este tipo de anacronismos. Façam-se os estudos, mas até lá utilize-se o bom senso: a economia e a vida dos Cidadãos JÁ NÃO ESTÁ CENTRADA NOS MUNICÍPIOS mas sim, predominantemente, nas Regiões!

Principalmente nas Metrópoles, mas não só. Andar para trás é impossível. Insistir na estafada tecla do municipalismo é a melhor forma de deixar tudo na mesma!

Chegaremos a um ponto em que se tornará evidente que, à falta de melhor argumento, o tique municipalista acabará por ser o ÚLTIMO OBSTÁCULO À IMPLEMENTAÇÃO DA REGIONALIZAÇÃO!

A. das Neves Castanho.